Paris está com uma bela exposição do artista Gordon Matta-Clark no Jeu de Paume até dia 23 de setembro de 2018. Matta-Clark foi um artista intenso que fez muita coisa em seu pouco tempo de vida (morreu de cancer aos 35 anos). De sua faculdade de arquitetura, ele levou para sua prática artística todos seus questionamentos de espaço urbano, e suas relações ao humano.
Suas origens e seus questionamentos
Filho do pintor surrealista chileno, Roberto Matta, Gordon Matta-Clark cresceu na Nova Iorque dos anos 70, quando a cidade passava por inúmeras transformações. Suas imagens são um tanto documentais retratando o abandono de áreas como o Bronx, Walls (1972), e as pichações dos muros americanos, Graffiti (1972-73). Mas ele não faz mero registros, suas fotografias tem um olhar estético apurado e um discurso de denúncia. Matta-Clark está sempre pensando a cidade: suas relíquias e suas ruínas interligadas as suas relações e divergências com os habitantes. Ele quer discutir as aproximações entre história e construção, sociedade e inclusão. É a partir dessas questões que nasce o coletivo Anarquitetura, em conjunto com outros 7 artistas. Eles visavam subverter a arquitetura tradicional e pensar ideias novas de aproveitamento urbano e humano.
Isso é o que temos para oferecer a você na sua melhor forma: confusão guiada por um claro senso de propósito. – Gordon Matta-Clark
Em 1977, em Paris, ele cria a série Porões de Paris. Essa obra trabalha com camadas expostas fotográficas e arquitetônicas tentado reunir os diferentes conceitos que perpassam a cidade: suas bases históricas, culturais e ocultas. Indo mais além nessa ideia, Matta-Clark interfere nos prédios e construções. Sua obra Interseção Cônica (1975) é uma abertura em um prédio parisiense que será demolido para revitalização da área do Marais. É uma ação diretamente na arquitetura do prédio e do bairro, de proporções gigantes, que agride e provoca o espectador. É uma fissura entre o passado do prédio e o futuro do antigo bairro, com a construção do Museu de arte contemporânea George Pompidou. É uma conexão entre familiar e político, interno e externo, ruína e relíquia. É também um pensar as relações entre habitantes e população local e melhorias práticas. São inúmeras camadas relacionais que Matta-Clark faz com suas colagens. Mas essas colagens podem não passar de um gesto ou uma imagem.
Alguns paralelos
Muitos fotógrafos pensaram e tentaram traduzir em imagem as muitas relações da cidade e seus entornos. No Brasil mesmo, temos alguns fotógrafos contemporâneos que a sua maneira reagem, com imagens, ao caótico da vida urbana. Pela semelhança com a estética de Gordon, fiquei pensando no fotógrafo Bruno Veiga. Já comentamos dele aqui no blog, mas ainda há muito a se falar. Fica para um próximo post!