Continuando sobre o tema Paris Photo, que falamos semana passada aqui, gostaria de ressaltar os mil eventos que aconteceram durante a semana da feira.
Começo com o evento que ajudei na organização e curadoria, junto com os fotógrafos Glaucia Nogueira e Shinji Nagabe. Fizemos um bate papo sobre a fotografia brasileira e seu lugar no mercado fotográfico, seguido de uma projeção com 14 fotógrafos brasileiros. A mesa, composta por mim, Isabella Prata e Felipe Abreu questionou as aproximações e especificações do mercado fotográfico. Será que existe um olhar brasileiro, ou somos fotógrafos do mundo, independente de nossas origens? E se existe esse olhar, qual seria sua particularidade? A fotografia brasileira ainda é vista como exótico pelo olhar europeu do centro? Como fazer para quebrar essa dicotomia centro/ periferia? E como fazer para não entrar no modismo do mercado que precisa sempre ser propulsado por novidades?
E o evento foi possível graças ao Iandé, uma plataforma cultural focada em divulgar, promover e decodificar a fotografia brasileira na França. Aliás, fico muito feliz de anunciar que também estou escrevendo por lá e colaborando para seguirmos com nosso objetivo comum. Ficou claro que ações como essa, de aumentar a visibilidade e legitimidade da fotografia brasileira no exterior, estão ganhando cada vez mais força na França. E que nossos fotógrafos são muito admirados.
Nossa projeção contou com: Ana Sabiá, Cleo Alves Pinto, Elsa Leydier, Felipe Fittipaldi, Fernanda Frazão, Guilherme Bergamini, Henrique Carneiro, Joel Lopes, Jonas de Barros, Karime Xavier, Mariana Guardani, Shinji Nagabe, Vitor Casemiro e Zé Barretta.
Continuando, tivemos a feira de livros de fotografia, Polycopies, que também contou com a participação de brasileiros no stand Havaïna. Em um barco, a 10 minutos do Paris Photo, a pequena feira de editores independentes apresenta trabalhos de todo o mundo. E o que vemos são livros mais ousados e menos ligados a norma. Além disso, é uma inspiração perpassar olhares e questões em todas as línguas, que nos falam e nos aproximam. Por exemplo, a editora alemã Café Lehmitz tinha um livro sobre as publicações femininas contemporâneas. Compilação importante e muito interessante.
Seguindo o caminho dos livros de fotografia, a grande sala da escola de belas artes foi tomada pela feira Offprint. Um pouco maior que a feira anterior (a Offprint também acontece em Londres no mês de maio), vemos um enorme apanhado de livros e revistas e uma discussão em torno do crescente aumento do números de impressões. No mesmo bairro, ainda acontece o pequeno festival Photo Saint Germain , que contou com a participação de 36 galerias da região. Destaque para a exposição da Maison de l’Amérique Latine* sobre fotógrafas alemãs que se exilaram na América do Sul. E para o fotógrafo Eric Antoine que trabalha com a antiga técnica fotográfica de colódio húmido. Quebrando com vários paradigmas da fotografia atual, Eric volta no tempo – técnica e psicologicamente – mantendo uma estética e um questionamento contemporâneo.
E não acabou!
Finalmente, mais dois eventos que me chamaram a atenção, a Bienal da Imagem Tangível e o Salão Approche. A bienal quis explorar práticas que tendem a emancipar-se do uso clássico da fotografia. Seja através do suporte, da técnica ou da forma. Em sua primeira edição, ela fez sua exposição principal em um antigo teatro e contou com instalações, vídeos, colagens fotográficas, esculturas… O fotógrafo brasileiro Caio Reisewitz participou com 2 obras. Na mesma pegada, o Salão Approche, em sua segunda edição, também trabalhou o enfoque contemporâneo da mídia fotográfica. Em um belo prédio tradicional parisiense, 14 artistas foram convidados a exporem seus trabalhos: Daniel Shea, Bruno Fontana (que participou dos dois eventos), Maya Rochat, entre outros…
*Exposição “Do outro lado”, fotografias de Jeanne Mandello, Hildegard Rosenthal et Grete Stern. Até dia 20.12.18 na Maison de l’Amérique Latine, Paris.