Um grande nome da fotografia mundial, Henri Cartier Bresson, está em cartaz numa bela exposição em São Paulo. Fotojornalista, teórico, fundador da grande agência de fotógrafos Magnum e pai do momento decisivo, as imagens de HCB são conhecidas por todos. Por esse lado, é extremamente prazeroso andar pela exposição em cartaz, nosso olhar sempre recai em imagens familiares.
Organizada por João Kulcsár, a exposição no SESI-SP reúne 58 imagens feitas no início dos anos 30, ou seja, do início da carreira de HCB. O fotógrafo nasceu em 1908 na França, entrou no mundo artístico pela pintura antes de descobrir a fotografia em 1931 através de um amigo militar e da influência dos artistas surrealistas da época.
A fotografia é uma lição de amor e ódio ao mesmo tempo. É uma metralhadora, mas também é o divã do analista. Uma interrogação e uma afirmação, um sim e um não ao mesmo tempo. Mas é sobretudo um beijo muito cálido. – Henri Cartier Bresson
Em 1935, HCB viaja para os EUA e participa de uma exposição na histórica galeria Julien Levy de Nova York ao lado do mexicano Manuel Álvarez Bravo, principal nome da fotografia latino-americana, e do norte-americano Walker Evans, conhecido pelo registro que fez dos efeitos trágicos da Depressão americana. Os três fotógrafos tem em comum imagens do cotidiano, tiradas no meio da rua, de pessoas comuns, com muito grafismo e momentos decisivos. São as imagens dessa exposição, intitulada Documentary and Anti-Graphic Photographs, que podemos ver em São Paulo.
O legal de observar o início da carreira de um grande fotógrafo é que podemos vislumbrar suas influências, enxergar seus primeiro passos e obstáculos e percorrer com ele uma parte de seu caminho. Nesse caso, estamos diante de um HCB bem antes de sua teoria sobre o momento decisivo na fotografia, elaborada em 1952. Talvez sejam fotos mais fluídas, menos estruturais, mas também são mais livres e experimentais.
Para mim a fotografia é o reconhecimento simultâneo, numa fracção de Segundo, do significado de um evento, a par da precisa organização das formas que dão ao evento referido a expressão apropriada. – Henri Cartier Bresson
Foi no livro Images à la sauvette, escrito em 1952, que HCB primeiro mencionou o termo “momento decisivo”. Termo polêmico, tido como incompreendido por muitos, fala de uma maneira de fotografar numa época histórica específica. O momento decisivo seria o saber esperar na fotografia do instante perfeito entre o sujeito, o espaço e o movimento. Seria um estudo minucioso geométrico e formal, onde o fotógrafo não poderia recortar nenhuma outra imagem do negativo original. Seguindo ou não essas ideias, o momento decisivo marcou uma geração de fotógrafos e foi importante para a teorização da fotografia. Vale a pena conferir o início desse pensamento, o tatear de um grande fotógrafo na exposição em SP.
*Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp, Av. Paulista, 1.313, de 18 de abril a 25 de junho de 2017.