A performance tem sua origem nos atos futuristas e dadaístas do início do século XX. Nos anos 50, se mistura ao action painting: quando os artistas começam a ter uma liberdade de ação na criação. Jason Pollock, Kasuo Shiraga, Yves Klein e Nikki de Saint-Phale, por exemplo, demonstram seu processo criativo através de performances. Existe um anseio de sair das salas apertadas do museu e criar um laço mais próximo com o público. Essas primeiras performances ainda eram voltadas para um resultado final específico: a pintura em si.
É apenas nos anos 60, a partir da arte conceitual, que a performance ganha notoriedade. Ela vai discutir importantes conceitos como os limites do corpo e da mente, a interação da arte e artista com as pessoas, a reação do público… A performance passa pela improvisação, interação, ação e reação, espaço e tempo da arte e do mundo. É uma nova mídia que permite experimentar com o corpo, o movimento, o som, o espaço e o tempo. E sobretudo interagir sem a quarta parede do teatro ou as amarras da pintura e do cubo branco da galeria e do museu.
Mas como vender o invendável por natureza, o imaterial, visto que a performance é para ser efêmera?
A fotografia foi uma maneira de documentar o trabalho performático e vender para colecionadores algo material e que trouxesse o conceito de raridade: com certificado, qualidade técnica e edição limitada. Mas as fronteiras se mesclam entre as artes e vão além da pura documentação. Alguns artistas performáticos, por exemplo, trabalharam anos com o mesmo fotógrafo, como Gina Pane e a fotógrafa Françoise Masson. Aqui a relação acaba sendo tão próxima entre os artistas que as duas mídias, através de seus caminhos específicos, resultam em uma representação sensível.
Ou ainda, de uma outra maneira, fotógrafos como Harry Shunk e János Kender que entre os anos 50 e 70 fotografaram imagens intensas do desenvolvimento da arte performática na Europa e EUA. Eles trabalharam com Niki de Saint Phalle, Claes Oldenburg, Jean Tinguely, Merce Cunningham Dance Company, Alan Kaprow, Yayoi Kusama, Robert Rauschenberg e Andy Warhol. Aqui é a fotografia que escolhe como tema a performance.
Mas a relação entre fotografia e performance consegue se estreitar ainda mais quando o fotógrafo vira performer e usa a imagem como meio de auto-representação. Nesse processo, o artista encena uma ação cujo resultado é dado a conhecer ao público apenas pelo meio fotográfico. Um caso bem conhecido são os falsos stills de Cindy Sherman. A fotógrafa se fantasia para representar modelos femininos associados à cultura contemporânea capitalista: estrelas de cinema, donas de casa… Ela performatiza experiências comuns entre as mulheres ocidentais.
A fotografia, com sua estreita relação ao real, é também uma mídia interessante para brincar com a interação do público, a improvisação, o espaço e tempo da arte e do mundo. A fotografia possibilita reinventar papéis e narrativas, além de verdades.