Apertem os cintos, próxima parada Brasília

O photolimits completou 1 ano e estamos com projetos de dominar o mundo! Além da nossa nova parceria mensal com a Subversos Livraria e Editora, queremos expandir os limites geográficos do blog e transbordar para além do Rio de Janeiro. A ideia é ter cada vez mais posts de fotógrafos e exposições pelo Brasil. O mercado de fotografia é pequeno, no Brasil e no mundo, e somos muito ligados ao eixo Rio-São Paulo, esquecendo de tanta gente boa por aí.

Assim sendo, pegamos o avião para uma pequena viagem até Brasília para descobrir a jovem fotógrafa Cléo Alves Pinto e seu ensaio Membranas. Formada em arquitetura e trabalhando com urbanismo, a fotógrafa se interessou justamente por esses pontos da nossa capital e nos leva numa viagem pela arquitetura e história de Brasília.

 

Membranas, Cleo Alves Pinto

 

Cidade planejada no meio do deserto, pensada por JK para ser a terceira capital do pais, Brasília é tida por muitos como uma cidade impessoal e fria. Sua enorme vastidão leva tempo para se acostumar, e Brasília se desvenda aos poucos. O olhar de Cléo procura justamente por pequenas revelações no meio de tanto concreto, e nos desvela detalhes únicos, vestígios humanos, entre membranas arquitetônicas.

 

Biologicamente, membranas são estruturas que separam dois ambientes, controlando a passagem de substâncias entre eles. A capacidade da membrana de ser ou não atravessada por determinadas substâncias corresponde à sua permeabilidade. Fachadas são como membranas. Eu fotografo o que me deixam ver. – Cléo Alves Pinto

 

Membranas, Cleo Alves Pinto

 

As imagens são das casas, do cotidiano e dos hábitos dos habitantes do Setor de Habitações Individuais Geminadas Sul, no SHIGS, nas 700 sul. Apesar desse nome em código, a zona habitacional em questão foi construída para os primeiros servidores públicos e pensada nos moldes de moradias tradicionais.

 

Foram 509 casas fotografas e depois catalogadas e agrupadas de dez formas diferentes, em dez tipos de membranas. A partir disso, a artista elaborou um fichário como obra, com um código específico, organizado de modo a documentar seu trabalho pessoal e as membranas.

 

 

 

Os trabalhos de Cléo estão em exposição numa coletiva com José Roberto Bassul e Michelle Bastos, até dia 28 de maio de 2017, no Museu Nacional da República em Brasília. Os 3 fotógrafos foram os ganhadores da leitura de portfólio do Festival Foto Capital promovido pela Galeria A Casa da Luz Vermelha.

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Retratos na capital brasileira

O photolimits viajou e tem uma ótima dica de exposição em Brasília, na linda galeria Athos Bulcão: Diego Bresani. Por influência da mãe e do irmão fotógrafos, Bresani sempre esteve em contato com a imagem, depois estudou artes cênicas e passou uma temporada em NY se aprofundando,  hoje é um dos grandes retratistas de Brasília.

 

Na sua atual exposição na capital, Bresani montou um panorama de seu trabalho escolhendo imagens dos últimos 10 anos de carreira. A mostra “Respiro – Retratos 1” reúne mais de 200 imagens de variados tamanhos, coloridas e P&B, em diversas partes do mundo, de anônimos, amigos e personalidades. A montagem se aproveita do espaço da galeria e numa dança estética interessante as fotografias conversam entre si, ganhando novos e diferentes significados nesse diálogo. Caindo do teto, amontoadas em bloco, sozinhas em um canto, apoiadas no chão, vários são os recursos que nos surpreendem e nos aproximam dos personagens de Bresani. Nós, público, também entramos na dança e conversamos com as imagens.

 

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O retrato sempre esteve muito ligado com a história da fotografia: as imagens de expedições dos povos do novo mundo, o desenvolvimento da fotografia policial (sobretudo os estudos criminalistas de Cesare Lombroso), depois os cartões de visita e os álbuns de família do século 19, até os atuais selfies na internet. E esse universo do retrato na fotografia sempre brincou com as aparências, poses e verossimilhança. Os cartões de visita do século 19, por exemplo, buscavam uma ligação com uma posição social privilegiada ao qual não pertenciam, através das roupas escolhidas a dedo, cenários e acessórios de estúdio. Os selfies de hoje não fogem muito dessa premissa.

 

Minha pesquisa atual constitui uma experimentação com as fronteiras entre a fotografia documental e a encenação. – Diego Bresani

 

O retrato sempre esteve nesse limite, entre o genuíno e a representação. Mesmo os retratos de identidade, ou científicos, também encenam só que de maneira oposto, numa extrema falta de acessórios, levando também a uma perda de autenticidade.

 

Existira um retrato verdadeiramente autêntico? Ou essa seria a eterna busca?

 

Uma das grandes forças do retrato, ou pelo menos, uma das causas de nossa grande fascinação, é a conexão com a pessoa fotografada. Não temos uma paisagem, ou um detalhe, temos o olhar do outro diante de nós. Quanto mistério no retrato!

 

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O retratado quer mostrar sua personalidade e o retratista quer revelar mais do que a  simples foto de uma pessoa, ele quer a essência do retratado: uma imagem que desvelaria a personalidade do modelo e que o aproximaria do público. E o público quer olhar a fotografia e descobrir os segredos da pessoa fotografada. Mas existe uma relação entre fotografado, retratista e público que depassa o que todos inicialmente imaginavam. Não sei se realmente enxergamos a alma do fotografado, ou mesmo a nossa quando nos vemos em uma foto. Entre a imaginação do espectador, a temporalidade da fotografia, a bi-dimensionalidade do papel, a alma do retrato se perde numa representação artificial do real.

 

A encenação do retrato seria justamente uma forma de explicitar essa artificialidade inerente da mídia. Diego Bresani  muitas vezes esconde as pessoas fotografadas, as mostra no escuro ou de costas, experimentando com a teatralidade. Com isso, nossa interpretação cai mais para o estético, ou para uma dança de experiências e histórias, que no fim das conta, nos retira de uma fixação com a identidade. Um distanciamento é produzido nessa encenação que nos leva a experimentar outros significados para além de uma mera leitura da personalidade do outro. Não importa mais se a alma do retratado foi revelada na imagem. O retrato começa a falar mais de nós e do mundo e menos do modelo.

 

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Até 16 de outubro, na Galeria Athos Bulcão. Visitação de segunda a sábado, das 12h às 19h; domingo, das 12h às 17h. Entrada franca.

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