Exposições FotoRio 2020/21

(english at the end)

Tive a chance de pensar em duas exposições, diametralmente opostas, para a última edição do FotoRio. De um lado uma expo de lambe-lambe, nas ruas do Rio de Janeiro, com imagens de Ratão Diniz sobre os bate bolas. Era o carnaval, a festa e a cor, retomando a cidade que ainda estava vazia por causa da pandemia e chorando sua muitas – demasiadas – mortes.

Há mais de 10 anos, o fotógrafo carioca Ratão Diniz acompanha as turmas de bate-bolas do subúrbio do Rio, em bairros como Campo Grande, Marechal Hermes, Rocha Miranda, Honório Gurgel e Guadalupe. Formado pela Escola de Fotógrafos Populares, Ratão registra manifestações culturais carnavalescas menos mediatizadas, desconstruindo vários pré-conceitos, tabus e clichês, do carnaval da periferia, que tanto são perpassados pela grande imprensa.
Independente do bloco, existe o cuidado com a preservação de uma memória e com a importância de múltiplos discursos e olhares. Assim, o olhar sensível do fotógrafo nos guia entre as cores, as máscaras, a alegria e a cultura bateboleira. Aqui o registro da folia é feito de forma democrática com o intuito de redefinir a identidade e fortalecer o pertencimento de todos.

Esse ano de 2021 não teve Carnaval, mas graças a essas imagens os bate-bolas resistem e desfilam nas ruas do Rio.

Do outro lado, “Corpos de Estilo ente Brasil e França”, do fotógrafo francês Julien Spiewak: uma exposição virtual sobre a história, o museu, a vida.

Corps de Style/ Corpos de estilo

Integrando sutilmente o corpo nos cenários de museus ao redor do mundo, o jovem fotógrafo francês Julien Spiewak nos surpreende com um olhar contemporâneo de ambientes históricos. O que pode parecer um jogo de esconde-esconde, brincando com o nosso olhar curioso sobre os detalhes dos corpos nos espaços, se revela um ensaio sutil e profundo. A elegância dos movimentos – dos braços da cadeira e dos modelos, por exemplo – une dois momentos no tempo, dando vida à História. A performance dos corpos nus ajuda o fotógrafo a não capturar apenas um instante fugaz mas a conectar épocas, estilos e momentos históricos.

Ao introduzir a vivacidade do corpo humano, sempre recortado, dentro de antigas salas, carregadas de histórias, muitas vezes rígidas e austeras, Julien causa uma estranheza. Entre a fotografia in situ e a performance, ele produz uma ruptura em nossas mentes através da quebra da referência do museu que nos aproxima. Criamos um vínculo com a arte antiga, o mobiliário barroco e as tapeçarias guardadas. E mais do que isso, nos conectamos a esses objetos, os tornando familiar. Há uma de-sacralizam dos museus e uma abertura para um diálogo entre gerações. Procurando com o nosso olhar onde se dissimula a parte do corpo na imagem, paramos e observamos. De maneira lúdica, o fotógrafo nos faz descobrir ricos detalhes que nos levam a uma interação com a história do museu, das pinturas, assim como com a nossa própria narrativa.

Julien trabalha sua série “Corps de Style” desde 2005, em museus franceses, europeus e brasileiros, e coleções privadas. Suas imagens são cuidadosamente estudadas e pensadas. Existe uma atenção particular voltada para as formas, as matérias e claro, a história de cada museu. Entre a primeira visita e o dia da realização da foto, Julien observou cada curva e símbolo, fotografou tudo e fez sketches das diferentes possibilidades finais de composição. Em seu processo de criação, o artista vai aos poucos encontrando aberturas entre o museu e seu universo particular. E todos os detalhes são válidos, inclusive as legendas que, com um certo humor, catalogam tudo que está presente na imagem, entre obras, mobília e o próprio modelo.

Para sua exposição virtual durante o FotoRio 2020, apresentamos duas salas com imagens de museus do Brasil e da França que dialogam entre si. Assim como uma série de estudos que mostra seu processo criativo. Julien esteve no Brasil de férias em 2015 e fotografou o Museu Imperial, em Petrópolis, e o Museu da República, no Catete. Dois monumentos à História do Brasil que guardam muitas memórias importantes de épocas marcantes da formação do povo brasileiro. De suas imagens da França, mostraremos às de coleções privadas e dos Museus “De la vie Romantique”, “De la Chasse et de la Nature” e “Cognacq-Jay”. Todas as imagens constituem cenários sumptuosos e clássicos, quase delirantes. Os leves detalhes, delicados e graciosos dos corpos de Julien, apesar de estarem praticamente em simbiose com os ambientes, quebram com o delírio de uma época, e nos remetem ao presente.

I had the chance to think of two diametrically opposed exhibitions for the latest edition of FotoRio. On one side, an urban exhbition in the streets of Rio de Janeiro, with images of Ratão Diniz of the bate bolas (a carnival tradition). It was carnival, party and color, taking back the city that was still empty because of the pandemic and crying its many – too many – deaths.

On the other side, I was the curator of the virtual exhibition “Style bodies between Brazil and France” of french photographer Julien Spiewak about history, museums and life.

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Imagens de folia, de resistência e de pertencimento

Muitos projetos fotográficos se desenvolveram ultimamente com o intuito de resistir através do olhar. Como já discutimos aqui, a imagem é, sobretudo nos dias de hoje, um elemento poderoso do discurso do poder, podendo corroborar a ideologia que quisermos. Existem muitos olhares, e é importante dar espaço a todos, justamente para deixarmos cada um escolher a sua verdade.

 

Com a necessidade de mostrar seus próprios olhares sobre o carnaval em favelas e subúrbios, um coletivo de fotógrafos independentes começou, em 2013, a registrar as manifestações culturais carnavalescas menos mediatizadas. Formados pela Escola de Fotógrafos Populares*, esses fotógrafos montaram o projeto Folia de Imagens que desconstrói vários pré-conceitos, tabus e clichês, do carnaval da periferia, que tanto foram perpassados pela grande imprensa no poder.

 

Eduardo Santos

 

Aqui saímos da praia de Copacabana e dos grandes blocos das estrelas da Globo. O importante não é a pele bronzeada, a menino escultural ou a musa do verão, é a história carioca, o patrimônio cultural e os pontos relevantes de cada ano, como ano passado, em 2017, que o feminismo e a crise política ganharam destaque. Não há generalização nas fotos, aqui os blocos longínquos da Zona Sul e marginalizados pela grande mídia são retratados em sua totalidade e não apenas quando há mortes ou brigas.

 

AF Rodrigues

 

O registro da folia é feito de forma democrática com o intuito de redefinir a identidade e fortalecer o pertencimento de todos. Entre os vários fotógrafos que participam, temos Léo Lima, por exemplo, que desenvolve uma pesquisa imagética com os moradores do Jacarezinho, temos também AF Rodrigues e Elisangela Leite com uma vasta documentação sobre o bloco da lama, ou a greve dos garis em 2014 pelas lentes de Luiz Baltar ou ainda o olhar menos estigmatizado de Fabio Caffé sobre os bate-bolas.

Independente do bloco, existe o cuidado com o reconhecimento de cada grupo, com a preservação de uma memória e com a importância de múltiplos discursos e olhares.

 

Fabio Caffé

Daniel Barreiros

 

*A Escola de Fotógrafos Populares foi fundada pelo fotógrafo João Roberto Ripper em 2004 como uma formação em documentação fotográfica, edição, digitalização e arquivamento digital para residentes e estudantes universitários de comunidades populares do Rio de Janeiro, Niterói e Baixada Fluminense.

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Carnaval em imagens

Para a grande maioria, durante a folia não temos tempo de ler, ou porque estamos pulando o Carnaval ou porque simplesmente não queremos fazer nada, apenas relaxar e recuperar o sono atrasado das semanas de trabalho.

 

Com isso, como ano passado, proponho um pot-pourri de imagens carnavalescas para descobrimos o Carnaval aqui e ali, hoje e ontem. Aliás, aproveitando, para quem está no Rio de Janeiro, a Galeria da Gávea está com uma linda exposição coletiva, “Vadios e Beatos”,  sobre o Carnaval brasileiro. Com curadoria de Marcelo Campos, 54 obras mostram a boêmia do Carnaval, com imagens de fotógrafos como Miguel Rio Branco e Guy Veloso, além de 2 vídeos do mesmo tema. Vale a pena conferir, mesmo depois dos blocos pois a exposição fica até março.

 

E bom Carnaval para todos!

 

Meu Deus! Meu Deus!
Seu eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação.

– Samba Enredo 2018, Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?, G.R.E.S Paraíso do Tuiuti.

 

Folia de Imagens, Leo Lima, 2018

 

Daniel Marenco (Globo), Jovem, 2018

 

William Klein, Nice, 1984

 

John Vink (Magnum), Carnaval de Veneza, 1982

 

Marcel Gautherot, Rio de Janeiro, 1960

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Não me leve a mal hoje é Carnaval

Mas é Carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar
Deixa o barco correr
Deixa o dia raiar
Que hoje eu sou da maneira
Que você me quer
O que você pedir, eu lhe dou
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser

– Chico Buarque

 

 

Não poderia deixar de associar a fotografia ao Carnaval brasileiro. Na avenida, no trio elétrico, nas ruas, hoje ou nas últimas décadas, a fotografia se associou de diversas maneiras com esse evento: ora documento de uma história em comum que todos temos, ora foto jornalística para se espalhar pelo mundo, ora experimental. De uma maneira ou de outra, a fotografia desvela as cores, as particularidades e o fascínio de muitos foliões por essa festa.

 

Seguem algumas imagens do Carnaval brasileiro pelas lentes de grandes fotógrafos.

 

Rogério Reis, Na lona

 

Lambe Lambe, Pedro Esteban, 2012

 

Bina Fonyat

 

Pierre Verger, Salvador

 

Walter Firmo

 

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