Será que somos o que comemos? Venha olhar mais de perto nosso alimento

Diz-me o que comes; eu te direi quem és. –  Anthelme Brillat Savarain

 

Um casal resolveu pesquisar essa frase mais profundamente e fotografou o nosso alimento cotidiano, resultando no livro fotográfico: Planeta Faminto – O que o Mundo Come. O fotojornalista americano Peter Menzel e a escritora Faith D’Aluisio retrataram famílias de todos os cantos do mundo com seus respectivos alimentos. Foram 36 famílias fotografadas ao redor de suas mesas, com tudo aquilo que costumam comer no período de uma semana. Para quem viaja e já quer logo experimentar a comida local, o resultado é extremamente interessante, provando que o alimento é cultural. Mais do que isso, as imagens abrem outras questões pertinentes: as diferenças econômicas que aparecem em cada mesa, os nossos hábitos de consumo saudáveis ou não, a sustentabilidade na alimentação…

 

EUA

 

Alemanha

 

Australia

 

Cuba

 

É interessante notar que países industrializados e mais ricos tendem a consumir menos frutas e vegetais, e mais congelados. Ou como alguns países tem uma proximidade maior com a agricultura e com isso consomem mais produtos da terra, sendo mais saudável. As análises são inúmeras e curiosas.

 

Sem querer dar respostas, ou mostrar verdades, a dupla levanta essas questões que valem a pena serem analisadas e pensadas. O ensaio também faz um estudo das mudanças pela qual passou a alimentação mundial impulsionada pela globalização, pelo turismo e pelo agronegócio. Será que com a concentração da indústria alimentícia na mão das mesmas grandes empresas ainda comemos tão diversificadamente assim?

 

Nos observando ao redor da mesa, hábito tão normal e simples em todas as culturas, perpassamos conceitos e questões como distribuição da riqueza, estereótipos, racismo, ecologia, saúde, consumo e nossa relação diante do outro. Da maneira como o livro foi fotografado, no estilo álbum de família, com todos os membros posando em suas cozinhas ou salas de jantar, assim como os alimentos,  não vejo um posicionamento objetivo do fotógrafo diante das perguntas que surgem. Mas é notável que suas imagens explicitam problemas extremamente contemporâneos da nossa sociedade.

 

*A dupla escreveu inúmeros livros juntos sobre hábitos alimentares. Hungry Planet: What the World Eats (Material World Books, Ten Speed Press, 2005

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Fotografia de comida, #Pornfood

Comer não é um hábito solitário. Muito pelo contrário, comer, na nossa sociedade, une as pessoas. O fogo, quando descoberto, propiciou a socialização, e hoje, ao redor da mesa, continuamos socializando. Em todo tipo de evento, dividimos as refeições.

 

A comida sempre esteve muito ligada a cerimônias religiosas, rituais de passagem, onde valores culturais são transmitidos e relações afetivas reforçadas. A comida é mais do que apenas um alimento para sobreviver, a comida é também um abraço, um carinho, um conforto, um prazer. Comemos para celebrar, chorar, fechar um negócio…

 

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As representações da comida, ao longo da história, sempre abrangeram um conjunto de interpretações, ideias, símbolos e comportamentos de diferentes grupos e pessoas.

 

A comida gera significado cultural e social.

 

No mundo online de hoje, nada mais normal que a representação da comida seja popular entre todos os usuários da internet. Comer tem uma representação simbólica que todos querem transmitir. Além disso, comida é meio de prazer e desejo. Ou seja, as fotos de comida no web estão muito relacionadas a uma transmissão dessas emoções, e também, claro, de status, sucesso, riqueza e exotismo.

 

Mas há quem torça o nariz.

 

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Desde as grandes pinturas renascentistas, no século XV, os grandes banquetes e seus pratos já eram representados na mídia disponível da época, a pintura. E todos com “filtros” de luz e cor para dar um ar mais apetitoso. Um estudo feito pela universidade de Cornell – 500 anos de #pornfood – mostra que em 500 anos de representação gastronômica sempre foi a comida mais cara e mais exótica a mais retratada. São o aspagos, a lagosta, o camarão, o abacaxi (fruta exótica para as terras europeias da Renascença) que se aglomeravam nos pratos pintados de nossos antepassados. Nada da comida rotineira do cidadão comum, como o frango e a batata, mas refeições que transmitiam símbolos sociais e status econômico. Muito parecido com as fotos e # do nosso atual instagram. Entre os pratos do alex attala ou as fotos de frutos do mar e drinks extravagantes na praia, não estamos tão distantes dos pintores renascentistas.

 

Não somos mais narcisistas, fúteis ou extremistas. A representação da comida, e toda a simbologia que a acompanha faz parte da nossa história.

 

 

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