Vertiginosa exposição no Rio de Janeiro

A exposição “Linguagens do corpo carioca [a vertigem do Rio]” acontece até dia 09 de outubro no MAR, no cento do Rio. Com curadoria de Paulo Herkenhoff e Milton Guran, organizador do FotoRio, a exposição reúne mais de 800 imagens de 164 artistas brasileiros de 1950 até hoje. Entre eles temos grandes nomes como, Ana Stewart, Pierre Verger, José Medeiros, Rogério Reis, Claudia Jaguaribe, Rosângela Rennó, Evandro Teixeira. É uma bela mostra da produção fotográfica brasileira.

 

Dividida em temas, como “Corpos cosmopolitas e locais”, “Corpos coletivos”, “Corpos inconstantes” a mostra alinhava os diferentes corpos da caótica, plural e dinâmica metrópole do Rio de Janeiro. Entre realidades políticas, sociais, culturais e históricas diferentes, os corpos expõem de maneira latente situações as vezes comuns para alguns, as vezes agressivas para tantos outros. Diferentes coreografias nos retratam jogos de futebol e pulos de asa delta, dançarinas e boxeadores, carnaval e funk, surfistas de trem e massacre de Vigário Geral.

 

2008, Piscinão de Ramos

 

Partimos da ideia de que o corpo fala, às vezes, com mais expressividade do que as próprias palavras e de que gestos corporais ajudam a expor a cidade. Então, analisamos o corpo do indivíduo isolado, o corpo em diálogo com o coletivo e os corpos em contato com a cidade – Milton Guran.

 

A exposição é um pouco caótica em si, com muitas imagens, sons, e até experiências táteis, criando uma certa confusão de sensações. Contudo podemos pensar que esse exagero sensorial ajuda o público a entrar no clima da algazarra dessa cidade radical e a entender melhor, através dos ruídos, os diferentes desejos que convivemos no território da urbe. Percorremos numa mesma sala diferentes mídias que resultam numa mistura de comportamentos, padrões cariocas, gestos e contextos: todos manifestados pelos corpos vorazes.

 

Refletimos sobre o caráter multifacetado do Rio de Janeiro, simultaneamente cordial e violento, democrático e excludente, profano e apolíneo. – Felipe Scovino

 

86426a47e5afc36a6678baf7a0e8f6b4

 

Cidade indígena, negra, branca, escravocrata, democrática, assassina, camarada, que fala inglês, francês, português e muitas gírias. Cidade paraíso, que exclui e que agrega, que voa e que nada, que é ruidosa nos sons das batucadas e silenciosa nos becos escuros. Cidade de sol e areia, de asfalto e sombra, de prostitutas, sorrisos, sexo e liberdades.

 

É essa cidade de múltiplas identidades que encontramos na exposição do MAR.

Continue Reading

O que você vê?

Sem querer me estender muito, todos já olharam para o lado e tenho certeza que estão percebendo o aumento de intolerância, medo e racismo, no Brasil e no mundo. Em algumas palavras, Inglaterra que vota sua saída da União Europeia, mais um ataque terrorista na Turquia, na França, atentado de Orlando… Enfim, não vou enumerar aqui todas as últimas manchetes.

Mas essas notícias me lembraram uma palestra no MAR – Museu de Arte do Rio – onde alguém falou uma frase sobre os refugiados (tenho que melhorar meus métodos de anotação, não sei mais quem disse isso) .

 

OS REFUGIADOS SÃO CORPOS, E NÃO-IMAGENS.

 

Hoje em dia, a imagem é totalmente e absolutamente visível, transparente. Mais do que isso, hoje somos “vistos” e representados mais por imagens que por corpos. Online e off-line, somos imagens pornográficas que não escondem nada, sem mistérios. Perfeitas, pensadas, posadas e clicadas.

 

tudo precisa acontecer na tela, sob esse dedicado materialismo da visibilidade do mundo.

 

Corpos são sobras, estatísticas, simbolicamente invisíveis.

 

Voltando a nossa frase de efeito, se os refugiados são corpos e não-imagens, eles perdem seus direitos, sua humanidade, pois sem as imagens não existimos no mundo de hoje.

 

Mas existimos.

 

c2a9-omar-imam-_live-love-refugee_-i-was-afraid-when-its-calm

“I was afraid when it was calm, when they checked to see who had passed away and who was injured. I felt safer in the midst of the shelling. I preferred to sing or listen to music when it was calm.” © Omar Imam

 

 

c2a9-omar-imam-live-love-refugee-my-wife-is-blind-i-tell-her-stories

“My wife is blind… I tell her the stories of her favorite TV series and sometimes change the script to create a better atmosphere for her.” © Omar Imam

 

 

Toda as imagens desse post são do fotógrafo sírio Omar Imam, tiradas de refugiados sírios no Líbano, país que conta com mais de 1 milhão de exilados. O link, as imagens e suas histórias são imperdíveis. http://arabdocphotography.org/project/live-love-refugee

Continue Reading