Article sur la photographie d’Amérique Latine pour le magazine « Fisheye » (2019)
Article about Latin American photography on “Fisheye” magazine (2019)
desvendando os limites da fotografia
Article sur la photographie d’Amérique Latine pour le magazine « Fisheye » (2019)
Article about Latin American photography on “Fisheye” magazine (2019)
Critic writer about photography, art and our contemporary era.
Parte do texto de minha autoria:
A fotografia como representação da vida
Em meio a crise política, econômica e sobretudo humana das migrações que vivemos hoje em escala global, me pergunto onde podemos realmente ver o refugiado? Eu sei, você vai me responder que o refugiado está em toda parte. Sim, lemos inúmeros artigos em jornais e revistas, ouvimos diversas opiniões de especialistas e estudiosos, temos acesso rápido a milhões de links nas mídias sociais e o observamos em tantas imagens de grandes fotógrafos sobre a crise. Porém, dentro desse emaranhado de opiniões e fatos, a figura daquele que buscou refúgio em outro país se banaliza e ele se perde em representações simples e redutivas. Em geral, sua imagem se esfacela no pouco acesso que temos à uma representação interna e diretamente feita pelos próprios exilados. Ou seja, falta diálogo, falta conexão e proximidade com as verdadeiras vítimas dessa tragédia. Aquele que precisa se exilar de seu país acaba sendo retratado de fora, numa comunicação calcada na desconexão e na distância.
Shinji Nagabe é considerado um nissei, ou seja, um brasileiro descendente de japonês, mas como vemos em seu trabalho, ele ultrapassa essa etiqueta. De família simples do Paraná, e tendo vivido uma infância solitária, o que percebemos das origens de Shinji são seus dois pilares culturais que transbordam em suas imagens. Já adulto, Shinji saiu do Brasil imigrando para França. “ESPINHA” é o resultado deste processo de transição para um novo país, de descobrimento íntimo e de reencontro com a fotografia. Um projeto pessoal com um título em duplo sentido para conseguir captar seus profundos questionamentos de artista imigrante, com duas nacionalidades de base. A espinha é tanto o osso que sustenta o corpo e as raízes de sua origem como também a espinha que fere, a realidade que dói, mas que ao mesmo tempo serve de proteção.
Nesse mês de fevereiro abre a exposição Another Kind of Life – photography of the margins (Outro tipo de vida – fotografia das fronteiras) em Londres, no Barbican Centre. A exposição reflete uma visão rica da vida de indivíduos e comunidades que operam às margens da sociedade. Seja na Europa, EUA, América Latina ou Índia, as imagens procuram mostrar uma representação mais autêntica de comunidades que são privadas de seus direitos básicos, quanto mais ainda do direito de serem retratadas honestamente. A lente desses fotógrafos, impulsionados por motivações pessoais e políticas, tenta construir uma identidade que mostra a complexidade e diversidade do mundo e da humanidade.
O Barbican Centre foi construído após a Segunda Guerra Mundial numa área londrina extremamente bombardeada pelos nazistas. Com uma visão utópica sobre o futuro, os 3 arquitetos – Chamberlin, Powell e Bon – pensaram em um prédio moderno, de grande escala e proporções internacionais. Depois de 30 anos entre o projeto e a abertura, o enorme centro de 190.000 m3 foi inaugurado em 1982 pela Rainha. O prédio foi considerado um marco arquitetônico do estilo brutalista e conta com uma sala de concertos de 2000 lugares, um teatro para 1.300 pessoas, uma galeria de arte, uma biblioteca, a escola de música e de teatro Guildhall, cinemas, áreas abertas, estacionamento e um parque.
Fotografia de rua, fotojornalismo, retratos, fotografia documental, vários estilos nos mostram, na extensão das salas de exposição, as diversas comunidades perseguidas ao longo dos anos, pelo mundo. Mais do que isso, 20 fotógrafos expõem obras onde essa contracultura é apresentada como agente de mudança. Rebeldes românticos, viciados, foras da lei, sobreviventes, indivíduos economicamente despossuídos, transgêneros e todos aqueles que aborrecem abertamente a convenção social, são reconhecidos para além do clichê. A exposição consagra a diferença e a empatia, ao invés de ridiculariza-la.
Paz Errazuriz, Pieter Hugo, Mary Ellen Mark, Larry Clark, Dayanita Singh, entre outros, nos mostram gangues de rua, homens vestidos de mulher em Nova Jersey nos anos 60, travestis da era Pinochet, mafiosos japoneses, etc. O tema é vasto e podia ser facilmente apresentado de maneira estereotipada ou voyeurística, unicamente para matar a curiosidade do público. Não é o caso. Inserida no programa do Barbican de 2018, A arte de mudar, a exposição aborda como artistas respondem a questões vitais do mundo, como feminismo, direitos humanos, gênero, mudanças climáticas… É um olhar sobre o papel do artista ao retratar subculturas diante de incertezas políticas e econômicas globais. Como são representados, nesse caso visualmente, pessoas atualmente sub-representadas? Venha conferir. A exposição fica em cartaz até fim de maio, nos lembrando não apenas do progresso que fizemos até hoje em relação ao outro, ao diferente, mas do trabalho árduo que ainda precisa ser feito.