3 novas exposicões para estreitar a ligação China – Brasil

O Rio de Janeiro foi a primeira cidade a receber imigrantes chineses ainda no século XIX, depois em 1911 com a Revolução Republicana na China, e a partir dos anos 1990, com uma nova leva de imigrantes originários de Qingtian que se fixou na região comercial conhecida como Saara. Apesar desse movimento migratório, não vemos muitos olhos puxados em terras cariocas e menos ainda exposições de artistas chineses e asiáticos. 

 

Mas, desde o dia 11 de maio, uma belíssima exposição do fotógrafo chinês Zhong Weixing inaugurou no Museu Histórico Nacional: “Face a face com grandes fotógrafos”. Homem de negócio, fotógrafo e colecionador de arte, Zhong, decide retratar os grandes nomes da fotografia internacional contemporânea. Desde 2016, seguindo a tradição do retrato na história da fotografia, ele inicia uma catalogação dos grandes rostos por trás das imagens emblemáticas da fotografia mundial. Num movimento de modernização do portrait, Zhong inverte sua lente para revelar o olhar por trás das grandes imagens. Nós não vemos mais através dos olhares de Vik Muniz, Sebastião Salgado, Martin Parr, JR, mas seus próprios olhos. Eles aparecem não mais através de suas obras, mas de retratos delicados e sensíveis.

 

Martin Parr, 2016

 

E para cada retrato, Zhong estuda não só a vida do fotógrafo mas sobretudo sua obra. E através desse diálogo, ele explora as características de cada personagem e propicia uma visão informal e aberta de cada um dos nossos ídolos. 

 

A curadoria é uma parceria entre o francês Jean Luc Monterosso, diretor da MEP em Paris e do brasileiro Milton Guran, diretor do FotoRio. A exposição nos apresenta 36 imagens e um filme no final, com cenas do making off no estúdio de Zhong. A iluminação está afinadíssima, e nos ambienta ainda mais, nos atraindo para os olhares de cada grande fotógrafo. Podemos ver nomes como Alain Fleischer, Cristina De Middel, Daido Moriyama, Elliott Erwitt, Joan Fontcuberta, Miguel Rio Branco, brasileiro, Orlan, Pierre et Gille, Ralph Gibson, Robert Frank, William Klein, entre muitos outros. 

 

E semana que vem, dia 07 de junho, o Centro Cultural Correios e o FotoRio inauguram mais duas exposições de artistas chineses: China de um chinês”, de Wang Weiguang e “Corpo” de Zhu Hongyu.

 

Zhu Hongyu

 

Wang Weiguang

 

*Face a face com grandes fotógrafos, Zhong Weixing. 11 de maio a 16 de julho, Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.

*China de um chinês, Wang Weiguang e Corpo, Zhu Hongyu. 07 de junho a 06 de agosto, Centro Cultural Correios, Rio de Janeiro.

 

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Foi dada a largada da décima edição do FotoRio

Há mais de 10 anos promovendo a fotografia brasileira, o FotoRio chega em sua décima edição em um ano particularmente difícil. Ano de enorme crise econômica e política, sobretudo no estado do Rio de Janeiro, o Festival Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro sobrevive a duras penas, graças ao apoio de artistas, instituições, técnicos e equipe; numa ação coletiva de ajuda mútua, criatividade e jeitinho. Dos patrocinadores privados pouco se ouviu falar, patrocínio público então, nenhuma ajuda, nenhum gesto que demonstre, como sempre, a importância da cultura no Brasil.

 

O FotoRio é um movimento de fotógrafos que atua como agente aglutinador, estimulando a exposição e a discussão de trabalhos históricos e contemporâneos da fotografia brasileira e internacional.

 

Veios Abertos da Baía da Guanabara, de Ana Carolina Fernandes no CCJF

 

Em poucas palavras, desde sua primeira edição em 2003, em média mais de 400 fotógrafos são mobilizados cada ano em eventos como exposições, mesas redondas, projeções e intervenções urbanas, cursos, seminários, oficinas, palestras e conferências, leituras de portfólio. Em 10 edições, o FotoRio criou uma parceria com a MEP – Maison Européenne de la Photographie – e seu diretor Jean-Luc Monterosso, apresentou grandes fotógrafos internacionais como Henry Cartier Bresson, Helmut Newton, Martine Franck, Graziella Iturbide, Jean Jacques Moles e outros inúmeros fotógrafos brasileiros como Ana Carolina Fernandes, Rogério Reis, Bruno Veiga, José Diniz, Carlos Vergara… O FotoRio abriu espaço para os jovens fotógrafos também, seja nas leituras de portfólio ou em exposições como a coletiva Ser Carioca de Luz em 2015, trabalhou com o MAR, o CCJF, o CCC, o centro Helio Oiticica, o Museu de Belas Artes, a Casa Laura Alvim, o Instituto Kreatori, e praticamente todos os grandes centros culturais do Rio. São muitas histórias.

 

Fora o Encontro de Inclusão Visual, evento pioneiro que proporciona um questionamento, um aprendizado e inúmeras trocas de experiências entre diversos projetos que utilizam a fotografia como instrumento de inclusão social em comunidades populares. O encontro reune coordenadores, alunos e monitores de diversos projetos do Brasil e do exterior para apresentar seus trabalhos, suas formas de organização, suas dificuldades e suas experiências individuais. São inúmeros os projetos que contribuíram nesse rico diálogo, como o Mão na Lata, projeto de alfabetização visual para deficientes visuais, o Inclusão Digital para Jovens Protagonistas, de Realengo, Viva Favela, Nós do Morro, Fotoativa, FotoLibras, entre muitos outros.

 

Albuminas Contemporâneas – O Rio Revisitado, de Ailton Silva, no CCJF

 

Mas nada disso parece importante para os investimentos – privados e públicos – por tantos motivos que todos sabem. O FotoRio não é o único a perecer nesse país pouco fiel a sua cultura e seus empreendedores culturais. Mas chega de lamentações, pelo menos nesse espaço a cultura é valorizada. E com crise e sem dinheiro, o FotoRio já estreou mais de 10 exposições pelo Rio de Janeiro, no Ateliê Oriente dia 12.05, com a exposição “Me chamo kiki e estou aqui prestes a lhe conhecer”, de Mayra Rodrigues, no CCJF, dia 17.05, com uma coletiva de 8 exposições e dia 19.05 no Ateliê da Imagem com uma palestra da fotógrafa Nana Moraes.

 

Leituras de portfolio, FotoRio 2016, ©Hans Georg

Para quem está ou passará pelo Rio entre junho e julho, não perca, serão várias exposições em diferentes instituições culturais, além de um ciclo de debates sobre mulheres e fotografia no Centro Cultural dos Correios, o Encontro de Inclusão Visual no final de junho e as leituras de portfólio dias 6 e 7 de julho.

Entre aqui para seguir a programação completa do FotoRio.

 

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Apertem os cintos, próxima parada Brasília

O photolimits completou 1 ano e estamos com projetos de dominar o mundo! Além da nossa nova parceria mensal com a Subversos Livraria e Editora, queremos expandir os limites geográficos do blog e transbordar para além do Rio de Janeiro. A ideia é ter cada vez mais posts de fotógrafos e exposições pelo Brasil. O mercado de fotografia é pequeno, no Brasil e no mundo, e somos muito ligados ao eixo Rio-São Paulo, esquecendo de tanta gente boa por aí.

Assim sendo, pegamos o avião para uma pequena viagem até Brasília para descobrir a jovem fotógrafa Cléo Alves Pinto e seu ensaio Membranas. Formada em arquitetura e trabalhando com urbanismo, a fotógrafa se interessou justamente por esses pontos da nossa capital e nos leva numa viagem pela arquitetura e história de Brasília.

 

Membranas, Cleo Alves Pinto

 

Cidade planejada no meio do deserto, pensada por JK para ser a terceira capital do pais, Brasília é tida por muitos como uma cidade impessoal e fria. Sua enorme vastidão leva tempo para se acostumar, e Brasília se desvenda aos poucos. O olhar de Cléo procura justamente por pequenas revelações no meio de tanto concreto, e nos desvela detalhes únicos, vestígios humanos, entre membranas arquitetônicas.

 

Biologicamente, membranas são estruturas que separam dois ambientes, controlando a passagem de substâncias entre eles. A capacidade da membrana de ser ou não atravessada por determinadas substâncias corresponde à sua permeabilidade. Fachadas são como membranas. Eu fotografo o que me deixam ver. – Cléo Alves Pinto

 

Membranas, Cleo Alves Pinto

 

As imagens são das casas, do cotidiano e dos hábitos dos habitantes do Setor de Habitações Individuais Geminadas Sul, no SHIGS, nas 700 sul. Apesar desse nome em código, a zona habitacional em questão foi construída para os primeiros servidores públicos e pensada nos moldes de moradias tradicionais.

 

Foram 509 casas fotografas e depois catalogadas e agrupadas de dez formas diferentes, em dez tipos de membranas. A partir disso, a artista elaborou um fichário como obra, com um código específico, organizado de modo a documentar seu trabalho pessoal e as membranas.

 

 

 

Os trabalhos de Cléo estão em exposição numa coletiva com José Roberto Bassul e Michelle Bastos, até dia 28 de maio de 2017, no Museu Nacional da República em Brasília. Os 3 fotógrafos foram os ganhadores da leitura de portfólio do Festival Foto Capital promovido pela Galeria A Casa da Luz Vermelha.

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10 anos do FestFoto

Com ares comemorativos, o FestFoto abre sua décima edição em maio de 2017. De 09 a 13 de maio, Porto Alegre vai receber inúmeras palestras, exposições, leituras de portfólio e bate-papos sobre a fotografia. E nós, de longe, só poderemos dar os parabéns e marcar na agenda para não faltar em 2018!

 

O FestFoto nasceu em 2007 com uma ideia de usar novas tecnologias para expandir o diálogo entre diferentes artistas e culturas e possibilitar a apresentação e divulgação de mais imagens além das que cabem penduradas na parede. Com um projetor, ou notebook, e uma vontade de provocar, mais fotógrafos se deslocam nos espaços da cidade e mais fotos são mostradas. De lá para cá, as leituras de portfólio também ganharam importância como um lugar de troca e aprendizado entre os diferentes personagens do universo fotográfico: jovens fotógrafos, curadores, galeristas, críticos… Grandes exposições físicas foras realizadas e nomes importantes da fotografia brasileira e internacional vieram palestrar no sul do país, como Thomas Farkas, Claudia Andujar, Marc Riboud, Sebastião Salgado, entre outros.

 

Outra ação extremamente interessante do festival é sua biblioteca. Qualquer um pode doar um livro sobre fotografia para a equipe do festival. A biblioteca fica aberta ao público durante os dias do festival e depois é doada para instituições e eventos que queiram receba-la. Desde 2010, ela já reuniu mais de 200 títulos entre livros de autores, catálogos, fotolivros… Sem contar o leilão! Outra ação bem legal com fotos lindas e super bem cotadas.

 

Marrocos, Coletivo Gringo

 

Esse ano, o FestFoto acontece no Centro Cultural Erico Veríssimo e apresenta exposicões físicas como “Marrocos” do Coletivo Gringo, “Rastros d’Eus” de Fernanda Chemale e “Você mereceu” da ganhadora da leitura de portfólio Encontros de Agosto em Fortaleza/2016, Marilia Oliveira. No dia 09 de maio teve retrospectiva das principais exposições do festival com Claudia Andujar, Luis Humberto, Thomas Farkas, Luiz Carlos Felizardo, Nair Benedicto, Ricardo Chaves… As leituras de portfólio dão prêmios como uma bolsa para estadia no FotoFest/Houston ou no Encuentros Abiertos de Buenos Aires. Mas sobretudo, vale a pena conferir os ganhadores, pois seus trabalhos costumam ser sensíveis e interessantes. Como o trabalho de Fábio Del Re, ganhador em 2016.

 

 

Fábio Del Re

 

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Venha descobrir um pouco mais do início da carreira de Henri Cartier Bresson e seu momento decisivo

Um grande nome da fotografia mundial, Henri Cartier Bresson, está em cartaz numa bela exposição em São Paulo. Fotojornalista, teórico, fundador da grande agência de fotógrafos Magnum e pai do momento decisivo, as imagens de HCB são conhecidas por todos. Por esse lado, é extremamente prazeroso andar pela exposição em cartaz, nosso olhar sempre recai em imagens familiares.

 

Organizada por João Kulcsár, a exposição no SESI-SP reúne 58 imagens feitas no início dos anos 30, ou seja, do início da carreira de HCB. O fotógrafo nasceu em 1908 na França, entrou no mundo artístico pela pintura antes de descobrir a fotografia em 1931 através de um amigo militar e da influência dos artistas surrealistas da época.

 

A fotografia é uma lição de amor e ódio ao mesmo tempo. É uma metralhadora, mas também é o divã do analista. Uma interrogação e uma afirmação, um sim e um não ao mesmo tempo. Mas é sobretudo um beijo muito cálido. – Henri Cartier Bresson

 

Em 1935, HCB viaja para os EUA e participa de uma exposição na histórica galeria Julien Levy de Nova York ao lado do mexicano Manuel Álvarez Bravo, principal nome da fotografia latino-americana, e do norte-americano Walker Evans, conhecido pelo registro que fez dos efeitos trágicos da Depressão americana. Os três fotógrafos tem em comum imagens do cotidiano, tiradas no meio da rua, de pessoas comuns, com muito grafismo e momentos decisivos. São as imagens dessa exposição, intitulada Documentary and Anti-Graphic Photographs, que podemos ver em São Paulo.

 

Hyères, França, 1932

 

Prostitutas, Mexico, Calle Cuauhtemoctzin, 1934

 

O legal de observar o início da carreira de um grande fotógrafo é que podemos vislumbrar suas influências, enxergar seus primeiro passos e obstáculos e percorrer com ele uma parte de seu caminho. Nesse caso, estamos diante de um HCB bem antes de sua teoria sobre o momento decisivo na fotografia, elaborada em 1952. Talvez sejam fotos mais fluídas, menos estruturais, mas também são mais livres e experimentais.

 

Para mim a fotografia é o reconhecimento simultâneo, numa fracção de Segundo, do significado de um evento, a par da precisa organização das formas que dão ao evento referido a expressão apropriada. – Henri Cartier Bresson

 

Foi no livro Images à la sauvette, escrito em 1952, que HCB primeiro mencionou o termo “momento decisivo”. Termo polêmico, tido como incompreendido por muitos, fala de uma maneira de fotografar numa época histórica específica. O momento decisivo seria o saber esperar na fotografia do instante perfeito entre o sujeito, o espaço e o movimento. Seria um estudo minucioso geométrico e formal, onde o fotógrafo não poderia recortar nenhuma outra imagem do negativo original. Seguindo ou não essas ideias, o momento decisivo marcou uma geração de fotógrafos e foi importante para a teorização da fotografia. Vale a pena conferir o início desse pensamento, o tatear de um grande fotógrafo na exposição em SP.

 

 

*Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp, Av. Paulista, 1.313, de 18 de abril a 25 de junho de 2017.

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