Vamos falar sobre o fotolivro?

O termo fotolivro – ou livro de fotografia, ou ainda livro de artista – tem sido cada vez mais utilizado no meio da fotografia. Mais do que isso, cursos, prêmios, editoras estão cada vez mais investindo nesse caminho. Recentemente, escutei da fotógrafa Claudia Jaguaribe, que além de fotógrafa também tem a editora Madalena de fotolivros, que a fotografia é a melhor mídia para o livro, pois é uma obra em si. Essa frase me fez querer pensar o formato da fotografia em livro.

 

Diferentemente da pintura, que tem suas imagens reproduzidas nos livros, ou o vídeo ou a performance, a fotografia em formato de livro não é uma reprodução mas o trabalho em si. E, diferentemente da exposição na parede, pode encontrar milhões de alternativas originais de apresentação. O fotolivro é em si uma arte dotada de estrutura própria, narrativa intricada e coerência visual e intelectual.

 

Gerry Badger descreve o fotolivro como “um tipo particular de livro fotográfico, em que as imagens predominam sobre o texto e em que o trabalho conjunto do fotógrafo, do editor e do designer gráfico contribui para a construção de uma narrativa visual”. É apenas uma descrição, dentre tantas possíveis. Aqui gostaria de abrir um pouco mais essa definição, e pensar em projetos fotográficos que desde o início foram feitos para serem vistos na forma de livro. Muitos fotógrafos se consagraram ao longo da história da fotografia e vários são os exemplos de fotolivros ícones: The Americans, 1958, de Robert Franck, American Photographs, 1938, de Walker Evans, The Golden Years, 1995, Nan Goldin, Think of England, 2000, de Martin Parr, Genesis, 2013, de Sebastião Salgado, entre tantos e tantos outros.

 

 

A obra é a extensão de seu autor, e o fotolivro é uma de suas melhores traduções.

 

Através da sequencia de imagens – textos, e objetos- uma relação visual é criada entre as fotos; criando metáforas, simbologias, narrativas, e acrescentando mais camadas e profundidade ao ensaio do fotógrafo. O fotolivro não é um punhado de imagens colocadas juntas aleatoriamente, mas, como já descreveu Gerry, um trabalho de vários profissionais em pensar o ensaio dentro de um tema, uma forma, um estilo e uma ideia maior que perpasse um conjunto de imagens.

 

O fotógrafo Ivan Padovani, por exemplo, tem um lindo fotolivro do seu trabalho “Campo Cego”. Querendo mostrar o caos da cidade através das empenas dos prédios de São Paulo, suas imagens são impressas em papel transparente, criando camadas de linhas e formas visuais.

 

Ivan Padovani, Campo Cego, 2015

 

O fotolivro permite duas outras coisas. Primeiro, atingir um público maior, democratizar a obra de arte, e quebrar com a obra numerada, assinada e emoldurada na parede da galeria ou museu. Segundo, de criar um diálogo mais intimo com esse público. Ao folhear o fotolivro, como qualquer livro, somos transportados a um lugar, a uma sociedade, a uma história pessoal. Podemos voltar, reler, parar, ficar e saímos do registro documental da imagem para uma conversa pessoal e criativa.

 

O livro de artista nada mais é que a obra de arte pensada no formato livro/publicação. É mais uma rica oportunidade para fotógrafos e artistas de explorar outras linguagens e conexões.

 

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Fotografia e ficção em Paraty

Começa hoje, na cidade de Paraty, que em si mesma já mistura a narrativa de cidade de praia com o peso da história da colônia, o festival de fotografia Paraty em Foco com o tema: Fotografia: documento e ficção.

 

“(a fotografia é) imagem ao mesmo tempo real e virtual. Registro fidedigno e imaginário. Materialidade e fabulação”. – site do festival

 

Iniciado em 2005 pelo italiano Giancarlo Mecarelli, o festival chega em sua 13a edição perpetuando seu histórico de difusão, formação, divulgação e construção de uma linguagem fotográfica e visual brasileira. Já passaram pelo festival nomes como Cristiano Mascaro, Thomaz Farkas, Claudia Jaguaribe, Thomas Hoepker, Miguel Rio Branco, Pieter Hugo, Alex Flemming, David Alan Harvey, Evandro Teixeira, entre tantos, tantos outros. Afinal, são 13 anos de festival, com 5 dias de eventos por ano que incluem palestras, workshops, projeções, encontros, ações sociais, leilões e muitas exposições pelas calçadas, fachadas, pousadas, igrejas, espaços culturais, bares, restaurantes…

 

Helenbar, Vitoriano, 2004

 

Com mais de 200 festivais de fotografia pelo mundo, e novos que surgem a cada ano, as possibilidades são enormes, mas podem assustar diante da magnitude de possibilidades. Para o fotógrafo, os festivais são muitas vezes cruciais para fazer contatos valiosos e descobrir as novas tendências do mercado. Mas o mais importante são as trocas realizadas durante o festival. Imersos numa pequena cidade charmosa como Paraty, respirando, vendo e ouvindo sobre fotografia, fotógrafos e simpatizantes acabam tendo uma oportunidade enriquecedora e única de se inspirar. Essa pausa no cotidiano, e na loucura da criação de um trabalho fotográfico, propicia questionamentos sobre o objeto fotografado, os meios de aproximação, as técnicas, o público, a relação com a imagem, sua materialidade e plasticidade.

 

Ao decentralizar o mercado fotográfico dos grandes centros (Rio e SP) para uma cidade do interior (Paraty), o festival envolve a deslocalização de uma rede de profissionais pré-existentes: curadores, críticos, artistas, público. Isso permite criar uma interface entre esses diferentes atores que legitima e valoriza não só os artistas, mas também a prática fotográfica.

 

Em época de crise e dificuldades no universo cultural, nada melhor do que voltar ao cotidiano com energia renovada e o entusiasmo transformado pelas possibilidades inspiradoras da fotografia.

 

Bruno Bernardi, Paisagem Movediça,
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