Essa semana fui ver no cinema o documentário Quanto tempo o tempo tem. Uma viagem pelo mundo em busca de uma (não tão simples) resposta: o que é o tempo, e por onde ele anda ultimamente?
COELHO: “EU TENHO PRESSA. AI, AI, MEU DEUS! ALÔ E ADEUS! É TARDE, É TARDE!”
A diretora e roteirista Adriana Dutra mergulhou 5 anos nesse tema. Artistas, filósofos, antropólogos, cientistas, jornalistas permeiam o filme com depoimentos que indagam sobre o tempo: sua história, nossa percepção, os avanços tecnológicos que mudaram nossa relação com o ele… A narração alinhavada por entrevistas não é muito dinâmica para o espectador, mas suscita uma reflexão extremamente interessante. E possibilita um discurso múltiplo enriquecedor.
Co-dirigido pelo fotógrafo Walter Carvalho, o filme me fez pensar na fotografia, afinal foto e tempo tem tudo haver.
Estamos acostumados a entender a fotografia como a mídia do instantâneo, da petrificação do tempo, do congelamento da memória; retendo o referente e seu instante passado e o fixando para outras gerações.
Com a invenção do “cinema” pelos Irmãos Lumière no final do século XIX, a fotografia fica ainda mais ligada a essa ideia de congelamento do instante, “imagem petrificada” do tempo. Aos poucos, a técnica moderna da imagem em movimento ganha uma certa primazia e relega à linguagem fotográfica o papel de embalsamadora do tempo.
Voltando ao documentário, muitos entrevistados falam de um tempo ligado a um conceito racional e mensurável relacionado à ideia de sucessão e percepção exterior: o movimento dos astros, as estações do ano, o ciclo do sol. É um conceito de tempo orientado (pra frente) e irreversível. Um conceito quantitativo, demarcado e calculável, que pode ser bem presenciado nos dias de hoje. Vivemos em ciclos temporais mais rápidos, mais ágeis, o tempo das novas tecnologias que embaralham os signos e as representações, criam mundos virtuais, fragmentam identidades e aceleram o ritmo.
ENTÃO É ASSIM, O TEMPO ESTÁ REALMENTE ESCOANDO PELO BURACO?
Existe um “outro” tempo ligado à experiência individual: qualitativo, subjetivo e não mensurável. Tempo dos nossos estados afetivos, corporais e de nossas lembranças, sentido através de uma subjetividade. O tempo mudou, o percebemos de outra forma.
Apesar da rápida participação de uma monja budista, Coen Sensei, no doc, senti falta de um contraponto a esse conceito de tempo ocidental “escorregadio” para expandirmos a discussão. Pois acredito que o instante não seja apenas quantitativo. Nem no cotidiano, nem na imagem. O que a fotografia propõe não é um mundo e um tempo para ser duplicado, mas para ser construído.
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Segue o face do filme com mais infos – https://www.facebook.com/search/top/?q=quanto%20tempo%20o%20tempo%20tem