Para quem ainda não sabe, escrevo mensalmente no site da editora Subversos. Especializada originalmente em publicações psicanalíticas, a editora foi se abrindo para uma troca com outras areas, e hoje dialoga com diversas visões e especialidades, como a política, a literatura e, claro, a nossa querida fotografia.
Todo mês escolho um fotógrafo e falo sobre sua vida, suas referências, além das questões que suas imagens me trazem. Mês passado escrevi sobre Man Ray e a fotografia surrealista, contando um pouco de suas peculiaridades e fazendo um paralelo com o inconsciente psicanalítico. Ficou curioso? Acesse o link aqui e confira o post todo.
O americano Man Ray foi muito próximo do artista vanguardista francês Marcel Duchamp, trabalharam juntos, desenvolveram teorias e colaboraram em diversos projetos. Os dois foram apresentados em 1915, pelo marchand Walter C. Arensberg nos EUA.
Entre seus projetos em comum, estão os ready-made. O primeiro ready-made, “achado” por Duchamp, data de 1913 e consiste em uma roda de bicicleta colocada em cima de um banquinho, que só faz girar. Man Ray também criou outros tantos ready-made, os mais famosos seriam o ferro com pregos, ou o metrônomo com um olho. O conceito básico dos ready-made é tirar o objeto do mundo real com total indiferença e evidenciá-lo para o mundo. Porém, independente da vontade do artista, quando retirados objetivamente do mundo material, esses objetos acabam por entrar em um mundo particular, ganhando subjetividade, símbolos e significados.
Encontramos assim o que seria praticamente o significado da própria fotografia, retirar do mundo objetivo uma imagem pessoal e subjetiva que ganha novas definições e alegorias. Os dois lidam com a apropriação do objeto de uma só vez, transformando o objeto e a imagem em novo símbolo da imaginação, que não experimenta uma resistência do mundo material. Duchamp perpassa esses conceitos para explicar seus ready-made – que ele também chama de múltiplos objetos ou objetos achados pelo mundo. E a fotografia afinal é isso, um objeto achado. Um fotógrafo cria a sua imagem a partir de alguma imagem pré-existente no mundo, a foto é basicamente uma imagem encontrada.
Essa é a ideia que Duchamp coloca em prática nos ready-made, objetos encontrados no mundo: réplicas. E as réplicas são múltiplas, assim como a fotografia, múltiplas na infinidade de possibilidades e questionamentos.