A incrível jornada de mais um Paris Photo

E mais uma vez, sobrevivemos à loucura da maior feira de fotografia, Paris Photo, e todos os seus eventos paralelos. Foram dias de encontros, trocas, olhares e discussões, sempre em torno da imagem. Mil exposições, palestras, mesas redondas, performances, livros com fotógrafos do mundo todo. Aliás, muitos brasileiros participaram, de diferentes gerações, e os diálogos foram muito importantes e enriquecedores.

 

Neste ano o Paris Photo realçou a presença da mulher e sua representatividade ao longo da história da fotografia. A organização começou escolhendo a fotógrafa norte americana Mickalene Thomas para ilustrar a capa e os cartazes da feira. Além de mulher, Mickalene é negra e trabalha exatamente sobre o feminismo e o lugar da mulher e do corpo negro na imagem. Além disso, um dia inteiro, com o tema “Mulheres, uma exceção?”, foi dedicado a conversas com e sobre mulheres. Entre vários eventos, manifestos foram lidos, discussões sobre identidade e visibilidade foram feitas, além de entrevistas com fotógrafas árabes.

 

La leçon d’amour, 2008, Mickalene Thomas.

 

Para terminar, um percurso imagético, Elles x Paris Photo, foi feito ao longo da feira através de trabalhos femininos. A curadora Fanny Escoulen escolheu uma centena de imagens para traçar o fio de uma história da fotografia sob o prisma do olhar feminino. Uma travessia importante e urgente pelas galerias e editores presentes na feira. Contudo, porém, quando olhamos de perto, o total de trabalhos apresentados na feira por mulheres fotógrafas foi de apenas 21%. Ou seja, um discurso bonito na teoria mas que ainda precisa ser levado mais a sério na prática. Nós não podemos deixar que se resuma apenas como uma questão de “moda do momento”.

 

Paris Photo foi a primeira feira internacional dedicada à fotografia e criada em 1997.

 

Além disso, a outra novidade foi a nova ala erótica da feira, Curiosa, pensada pela curadora Martha Kirszenbaum. No fim da feira, com limite de idade para entrar, 14 galerias expuseram artistas que trabalham com a fotografia sensual. Movimento importante na fotografia do século XX em diante, as imagens desses fotógrafos pensam sobre o corpo e o sexo, desafiando nosso olhar em cima da fantasia e do fetiche. E a seleção artística perpassa gênero, tempo e espaço, com nomes como Daido Moriyama, Robert Mapplethorpe, Antoine D’agata e Jo Ann Callis, Renate Bertlmann e Natalia LL.

 

Amy Friend, Jack’s Cat, 2016

 

Para terminar, gostaria de ressaltar a participação brasileira. Primeiramente, a editora Madalena que esteve mais uma vez presente misturando gerações de fotógrafos. Num diálogo enriquecedor, lançou livros de fotógrafos consagrados como Cássio Vasconcelos e João Farkas e jovens artistas promissores, como Henrique Carneiro e Rodrigo Pinheiro. Além disso, os fotógrafos Caio Reisewitz e Pedro Motta foram apresentados em galerias internacionais. E, finalmente, a galeria Lume, de São Paulo, veio com o status de primeira galeria brasileira a participar da feira. E trouxe o trabalho histórico e político da artista Ana Vitória Mussi. Aliás, um acerto dentro de uma feira com um viés mais estético vintage do que engajado e ativo.

Negativos, 1974-2006, Ana Vitória Mussi

 

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Paris Photo e o incrível universo da maior feira de fotografia

A feira de fotografia Paris Photo é o acontecimento incontornável do mercado de fotografia. Primeira feira de arte dedicada exclusivamente ao meio fotográfico, semana passada o Paris Photo apresentou sua 21a edição. Desde 1997, ela acontece anualmente em espaços prestigiosos, primeiramente no Carrousel du Louvre e agora no enorme espaço do Grand Palais. Ano passado, em 4 dias de feira, teve mais de 50 mil visitantes. Desde 2013, ela se aventurou no novo mundo e abriu uma filial em Los Angeles, nos EUA, para criar mais vínculo com o grande mercado americano como um todo. O sucesso das duas feiras é inquestionável.

 

 

 

Esse ano a feira apresentou mais de 180 galerias e editoras de livros de fotografia, de uns 30 países, que apresentaram trabalhos fotográficos tanto modernos quando contemporâneos. Um grande panorama da história da fotografia e do que anda se clicando (e vendo) pelo mundo. Pelo menos essa é a ideia, infelizmente a prática de uma grande feira de arte é um pouco diferente da teoria. Sem tirar o mérito de ser o grande encontro mundial de fotógrafos, galeristas e colecionadores de fotografia, o Paris Photo caiu em sua própria armadilha.

 

Ao expandir-se e tornar-se a maior feira de fotografia do mercado, o Paris Photo hoje funciona como um grande centro comercial. Com o custo alto para produção e participação da feira, a pressão e a correria, as galerias não conseguem inovar, nem investir em originalidade. Resultado: vemos muito do mesmo – o que vende – ou obras apenas para chamar a atenção. É obvia a crescente fadiga por parte dos galeristas, artistas que acabam tendo que produzir ao invés de criar, e público.

 

 

Com esse crescente enfoque financeiro nas feiras em geral, ainda temos o efeito “evento”, que tanto importa nos dias de hoje. Esse ano a cantora Patti Smith fez a curadoria da Gagosian (além de apresentar suas próprias imagens) e Karl Lagerfeld foi a figura da feira para comemorar os vips, fazendo tour selecionados e escolhendo dentre as galerias os trabalhos que mais lhe agradava. É sempre assim, de um lado os colecionadores que querem as melhores festas, as salas vips e o champagne, do outro, o público que quer ver os rostos famosos, as roupas da moda, as assinaturas vedetes… E no meio disso tudo, ostentação, futilidade, dinheiro e pouca diversidade e assombro com a arte.

 

Mas a feira Paris Photo 2017 teve algumas pérolas escondidas. As casas de edição estavam originais, e aqui penso na editora mexicana RM e no único stand brasileiro dividido entre as editoras Livraria Madalena e Bazar do Tempo. Fotolivros que eram trabalhos por si só, e não mera ilustração das fotografias. Grandes nomes da fotografia, menos midiáticos, estavam expostos em algumas galerias, como Joel Peter Witkin, Dora Maar ou Georges Rousse. De novidades, eu descobri os retratos e naturezas mortas contemporâneas de Olivier Richon, o caos organizado de Marja Teeuwen, o russo modernista Boris Ignatovich e a retratista Andrea Torres. Afinal, entre galerias asiáticas, latinas, americanas, européias e africanas, as descobertas existem.

 

Marja Teeunew, 2010

 

 

Andreas Torres, The Unknow

 

 

Olivier Richon, 2013
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