Zhang Dali e a geração artística chinesa “fuck off”

Foi pesquisando sobre o artista chinês, Zhang Dali, que eu descobri a expressão geração “fuck off” (geração “foda-se”). Não conhecia essa geração artística, mas já curti. Seriam os artistas e pensadores chineses que vieram após a morte de Mao Zedong. Pessoas que viveram as restrições impostas pelos anos de Mao e que tiveram que lidar com a entrada em uma nova era, contemporânea, cheia de novidades. E que além de tudo ainda tinham que se relacionar com o que existia antes: os inesgotáveis ​​séculos passados ​​de arte tradicional.

 

O final dos anos 80, na China, foi um ponto de virada para a política e a economia. O  regime autoritário neo-comunista que dominou o país e a livre iniciativa desenfreada que veio gerou um impulso precipitado que culminou nos protestos da Praça Tiananmen em 1989. Para os artistas que cresceram com o legado da Revolução Cultural, suas censuras políticas e artísticas opressivas, a nova era veio como a alternativa de novos experimentos na linguagem. Jovens artistas aproveitaram a ocasião para ampliar o horizonte e libertar as amarras.

 

Zhang Dali foi um desses artistas. Nascido na China em 1963, fez sua formação artística em Pequim e em 1989 teve que fugir para Itália. Viveu em Bolonha entre 1989 e 1993. No ocidente teve contato com o grafite e a arte de rua. Foi o pioneiro na China de street art com o codinome de AK-47. Em seus anos de exílio, pode perceber com outro olhar a máquina da propaganda política, e as mudanças bruscas e desumanas que seu país sofreu. Seu trabalho perpassa todas essas questões, sempre preocupado com as vastas mudanças sociais e culturais que ocorreram desde o início das reformas econômicas na década de 80. Sua intenção é documentar essas questões e dialogar com o público e o ambiente. 

 

 

Eu acredito que os seres humanos são o produto de seu ambiente. Estou preocupado com as mudanças em nosso ambiente de vida que foram impostas pelo dinheiro e pelo poder. – Zhang Dali

 

 

Seu projeto em andamento, “Uma segunda história”, mostra a alteração de fotos feitas na China durante a liderança de Mao Zedong para atender às necessidades de propaganda política. Adicionando ou removendo pessoas e elementos de cena, recorrendo inclusive a coloração e retoque, as fotografias foram mudadas para se adequar à agenda de Mao, e representar mais positivamente o regime. Zhang Dali percorreu inúmeros arquivos, em um trabalho insano, para achar os negativos originais e mostrar as alterações implementadas. Toda essa pesquisa revela insights sobre a história chinesa moderna, além das óbvias implicações sobre a veracidade dos meios de comunicação de massa contemporâneos.

 

Comecei esta pesquisa porque estava pensando em como explorar o que não é claramente visível, fiquei me perguntando como entrar na cabeça de outra pessoa – os censores, por exemplo. – Zhang Dali

 

 

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