Ano Novo, vida nova! Vamos começar o ano com um post visual, dizendo menos e olhando mais? Que tal descobrirmos juntos novos fotógrafos? Segue aqui 8 artistas que descobri ao longo do ano passado e que pretendo continuar observando seus trabalhos.
Juno Calypso (Inglaterra)- The Honeymoon, 2015
Shinji Nagabe (Brasil) – Itabanhana, 2015
Toshio Shibata (Japão) – Nikko City, 2013
Thibault Brunet (França)- Typologie du Virtuel, 2014
Vasantha Yogananthan (França) – A myth of two Souls, 2016
Namsa Leuba (Guinea/ Suiça) – NGL, 2015
Vanessa Beecroft (Itália) – VBSS, 2007
Matt Wilson (Inglaterra) – Deep South, 2016
E você, viu alguma imagem interessante ano passado? Descobriu algum artista? Compartilhe com a gente.
Diz-me o que comes; eu te direi quem és. – Anthelme Brillat Savarain
Um casal resolveu pesquisar essa frase mais profundamente e fotografou o nosso alimento cotidiano, resultando no livro fotográfico: Planeta Faminto – O que o Mundo Come. O fotojornalista americano Peter Menzel e a escritora Faith D’Aluisio retrataram famílias de todos os cantos do mundo com seus respectivos alimentos. Foram 36 famílias fotografadas ao redor de suas mesas, com tudo aquilo que costumam comer no período de uma semana. Para quem viaja e já quer logo experimentar a comida local, o resultado é extremamente interessante, provando que o alimento é cultural. Mais do que isso, as imagens abrem outras questões pertinentes: as diferenças econômicas que aparecem em cada mesa, os nossos hábitos de consumo saudáveis ou não, a sustentabilidade na alimentação…
É interessante notar que países industrializados e mais ricos tendem a consumir menos frutas e vegetais, e mais congelados. Ou como alguns países tem uma proximidade maior com a agricultura e com isso consomem mais produtos da terra, sendo mais saudável. As análises são inúmeras e curiosas.
Sem querer dar respostas, ou mostrar verdades, a dupla levanta essas questões que valem a pena serem analisadas e pensadas. O ensaio também faz um estudo das mudanças pela qual passou a alimentação mundial impulsionada pela globalização, pelo turismo e pelo agronegócio. Será que com a concentração da indústria alimentícia na mão das mesmas grandes empresas ainda comemos tão diversificadamente assim?
Nos observando ao redor da mesa, hábito tão normal e simples em todas as culturas, perpassamos conceitos e questões como distribuição da riqueza, estereótipos, racismo, ecologia, saúde, consumo e nossa relação diante do outro. Da maneira como o livro foi fotografado, no estilo álbum de família, com todos os membros posando em suas cozinhas ou salas de jantar, assim como os alimentos, não vejo um posicionamento objetivo do fotógrafo diante das perguntas que surgem. Mas é notável que suas imagens explicitam problemas extremamente contemporâneos da nossa sociedade.
*A dupla escreveu inúmeros livros juntos sobre hábitos alimentares. Hungry Planet: What the World Eats (Material World Books, Ten Speed Press, 2005
Falar de uma arte africana é complicado, a África engloba 54 países com histórias e culturas diferentes. No norte do continente, por exemplo, existe uma influência árabe, já na parte sub-saariana existe uma forte influência tribal. É difícil falar de uma mesma arte para tantas narrativas.
Fora do continente, a fotografia africana tem pouco espaço. O público internacional em geral tem uma certa dificuldade em acessar e as vezes também em entender o contexto dessas imagens. Muitos artistas contam histórias distantes da nossa realidade, que não conhecemos ou não compreendemos totalmente. Mas aos poucos estamos tendo mais acesso: a arte africana começa a aparecer pelo mundo em exposições, feiras e prêmios e seus artistas ganham cada dia mais o prestígio que merecem.
Em 2015, por exemplo, o francês André Magnin foi curador de uma exposição de arte congolesa na Fondation Cartier. A exposição foi estruturada de maneira bem didática, com obras em ordem cronológica, tudo entremeado por cabines de áudio onde tocavam músicas do país, com suas traduções e explicações. Outros exemplos de visibilidade são a feira 1:54, apenas de arte africana, criada em 2013 em Londres, ou a AKAA (Also know as África) em Paris, ou ainda o Armory Show, em NY. Todo ano a feira escolhe um artista para construir sua identidade visual, e esse ano foi Kapwani Kiwanga que nasceu no Canada mas é filha de africanos e trabalha muito com a ideia de diáspora em diferentes mídias: vídeo, instalação, fotografia e performance. No Brasil ainda precisamos de mais ações para nos aproximarmos desse mundo imagético.
O prêmio Hasselblad foi outra grande oportunidade de visibilidade para a fotografia africana. O fotógrafo do Mali, Malick Sidibé, foi o primeiro africano a ganhar o prêmio, em 2013. Foi um fotógrafo atuante nos anos 60, com um forte registro documental do cotidiano de Bamako e de sua vida noturna. Retratista da sociedade, Malick tinha um estúdio na capital onde fotografava seus costumes, sua moda e sua cultura, em imagens em preto e branco. Todos passaram por seu estúdio, desde o agricultor, o músico, o jovem que começava a fumar, as amigas… E as imagens aparecem de maneira leve, cúmplice, certeira em composição e beleza.
As imagens de seu estúdio são importantes pois testemunharam um momento de orgulho e efervescência do país. Aquele momento pós independência (o Mali foi colônia francesa até 1960) onde todos acreditavam no futuro e explodiam com projetos e sonhos. Quando o Mali recriava sua identidade, Sidibé fotografava a transformação em imagens espontâneas e descontraídas. Mais do que isso, seu estúdio é relatado como um ponto de encontro e de discussão para a comunidade local. Ali todos se sentiam bem, retratados de maneira simples e direta.
E terminando com um pouco de música boa para entrar no ritmo.