Festival de Fotografia de Arles, França

Semana passada estive num dos maiores festivais de fotografia, os Encontros de Arles, no sul da França. Não conhecia essa região, que por si só já vale uma visita, com suas ruínas romanas, seu centro antigo murado e sua cultura que mistura influências espanholas, romanas…

 

O festival de Arles existe desde 1969.

 

São exposições, debates, assinaturas de livros, projeções, entrevistas, workshops, enfim mil e uma atividades numa cidade que se dá a volta toda, à pé, em no máximo meia hora. Um regalo! Não há tempo perdido em trânsito ou outras besteiras, tudo é voltado para a mídia fotográfica! Igrejas são usadas como espaço expositivo, antigas casas, ruínas romanas projetam imagens contemporâneas, claustros acolhem projeções e festas eletrônicas. Se vê e se ouve sobre fotografia 24 horas por dia. Somos estimulados a novos olhares e novas ideias. Entre os passantes se escuta de tudo: árabe, inglês, português, alemão, dinamarquês… Todos estão acessíveis para uma troca e um bate papo, até os fotógrafos mais demandados, como o franco-americano William Klein.

 

Paul Graham, Arles 2018

 

The hobbyist, Arles 2018

 

Fiquei em êxtase!

 

Mas agora, que a poeira baixou, me pergunto, até que ponto essas trocas não foram rasas? No alvoroço dos inúmeros eventos, não há tempo a perder: toma o meu cartão e bora para o próximo encontro incrível. É muita informação disponível, muito ruído em volta, pouca calma e pouco silêncio. Todos ficam no plano de um discurso superficial. Sim, eu sabia que seria assim, a primeira semana do festival é a semana dos eventos: “the place to be”. Quem vai é para ver e ser visto, é a hora de encontrar pessoas, aumentar o networking, conhecer as novidades. Quem quer mais silêncio e foco, melhor deixar para ir depois. Porque o festival dura quase três meses, de julho a setembro, e depois desta primeira semana apenas as exposições ficam (além do sol e dos sorvetes).

 

Assim como Cannes está para o cinema, Arles está para a fotografia. Com isso, inúmeras pressões se debatem, num jogo político e econômico enorme. E isso é visível. O festival segue uma cartilha para agradar público, patrocinador e política local. Sai pouco do óbvio, inovando dentro de um limite claro e consistente. Abre até certo ponto para ideias novas e diálogos profundos para além do pequeno mercado fotográfico de Paris. No fim, o que me marcou é que o festival de Arles é feito por parisienses para parisienses.

 

 

 

Mas dito tudo isso, o festival vale muito a pena. Se descobre muita coisa interessante, muitos nomes novos, e alguns contatos conseguem se aprofundar. Semana que vem comentaremos mais sobre as melhores exposições de Arles e alguns fotógrafos acolhidos.

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