Comer não é um hábito solitário. Muito pelo contrário, comer, na nossa sociedade, une as pessoas. O fogo, quando descoberto, propiciou a socialização, e hoje, ao redor da mesa, continuamos socializando. Em todo tipo de evento, dividimos as refeições.
A comida sempre esteve muito ligada a cerimônias religiosas, rituais de passagem, onde valores culturais são transmitidos e relações afetivas reforçadas. A comida é mais do que apenas um alimento para sobreviver, a comida é também um abraço, um carinho, um conforto, um prazer. Comemos para celebrar, chorar, fechar um negócio…
As representações da comida, ao longo da história, sempre abrangeram um conjunto de interpretações, ideias, símbolos e comportamentos de diferentes grupos e pessoas.
A comida gera significado cultural e social.
No mundo online de hoje, nada mais normal que a representação da comida seja popular entre todos os usuários da internet. Comer tem uma representação simbólica que todos querem transmitir. Além disso, comida é meio de prazer e desejo. Ou seja, as fotos de comida no web estão muito relacionadas a uma transmissão dessas emoções, e também, claro, de status, sucesso, riqueza e exotismo.
Mas há quem torça o nariz.
Desde as grandes pinturas renascentistas, no século XV, os grandes banquetes e seus pratos já eram representados na mídia disponível da época, a pintura. E todos com “filtros” de luz e cor para dar um ar mais apetitoso. Um estudo feito pela universidade de Cornell – 500 anos de #pornfood – mostra que em 500 anos de representação gastronômica sempre foi a comida mais cara e mais exótica a mais retratada. São o aspagos, a lagosta, o camarão, o abacaxi (fruta exótica para as terras europeias da Renascença) que se aglomeravam nos pratos pintados de nossos antepassados. Nada da comida rotineira do cidadão comum, como o frango e a batata, mas refeições que transmitiam símbolos sociais e status econômico. Muito parecido com as fotos e # do nosso atual instagram. Entre os pratos do alex attala ou as fotos de frutos do mar e drinks extravagantes na praia, não estamos tão distantes dos pintores renascentistas.
Não somos mais narcisistas, fúteis ou extremistas. A representação da comida, e toda a simbologia que a acompanha faz parte da nossa história.