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Esse mês colaborei com a revista francesa Fisheye em uma reportagem especial sobre a fotografia na América Latina. Após uma introdução geral sobre os fotógrafos tradicionais do continente, a revista escolheu 11 jovens fotógrafos para fazer um apanhado da nova produção latino-americana. Um repertório sobre alguns dos mais importantes locais dedicados à fotografia também está disponível ao fim da edição.
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Graças a minha colaboração com a revista conheci o trabalho da fotógrafa argentina Luján Agusti. De origem da Patagônia, uma terra de limites e passagem, ela trabalha sobre identidades. Em sua série “Palhaços de Coatepec”, por exemplo, ela trabalha com um antigo ritual mexicano da época da colonização espanhola. Um trabalho que fala da formação identitária de um país colônia e sua situação hoje. Qual a identidade contemporânea desse povo precário? Luján trabalha o humano.
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Sua série “54°48´26´´S 68°18´16´´O”, sobre Ushuaia, fala da capital da Terra do Fogo, cidade que vive um isolamento natural e ao mesmo tempo é invadida de turistas. Qual a identidade desse povo solitário, dependente da natureza e de uma economia instável? Em outra série ainda, “Salve sua Alma”, Luján perpassa memórias da perda de sua mãe com rituais religiosos mexicanos. Uma busca por sua própria identidade.
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Parte do coletivo Prime de fotografia e da IWMF que apoia o trabalho de mulheres fotógrafas, Lujan ganhou uma bolsa de estudos da « National Geographic Society » e foi escolhida como uma jovem talento pelo programa « 6×6 Global Talent Program of World Press Photo ». Aproveito para dividir com vocês uma pequena entrevista que fiz com ela, além de suas imagens, claro.
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Qual é a sua formação fotográfica?
Inicialmente estudei História da Arte na Universidade de Buenos Aires. Depois estudei fotografia três anos na Andy Goldstein School em Buenos Aires também. Finalmente fiz o Seminário de Fotografia Contemporânea no Centro de la Imagen, no México, com sede na Cidade do México e em Oaxaca. Enquanto isso, sempre realizei diferentes workshops desde de processos de desenvolvimento artesanal até outros relacionados ao fotojornalismo, como o Eddie Adams, nos Estados Unidos.
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O que fez você escolher a fotografia como uma forma de expressão?
Eu sempre fui ligada à arte de uma forma ou de outra, passei pela pintura e pela história da arte. A imagem fotográfica apareceu no meu caminho quando eu era adolescente. Aquela fase difícil de expressar em palavras muitas coisas ao redor. Acabou tornando-se a minha maneira de me relacionar com o mundo ao meu redor. E, até hoje, é a minha maneira de entendê-lo.
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Você trabalha entre a Argentina e o México, que relação visual de semelhança e diferença você experimentou entre esses dois países latino-americanos? E de que maneira essas relações são mostradas em seu trabalho?
Eu sempre penso muito que, embora os dois países sejam latino-americanos, há muitas diferenças entre um e outro. Particularmente com a Patagônia, que é de onde eu sou. Enquanto no México muitas tradições e culturas ancestrais estão vivas, no sul da Argentina, o território e a cultura original foram devastados. Nesse sentido, no México, tenho me interessado em explorar os caminhos das tradições pré-hispânicas, enquanto na Patagônia tento contar histórias do que foi perdido ou corre o risco de desaparecer. Em ambos os casos, o que quero é abordar os problemas da minha região e atingir o olhar daqueles que, de outra forma, nunca os veriam.
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Conte um pouco sobre a sua série “Salve sua alma”. Como se deu a idéia e como foi o processo?
Este trabalho começou como meu projeto de estudo no Centro de Imagem. Vindo de um contexto bastante não-religioso, fiquei muito impressionada ao vir ao México e ver a presença do espiritual tão forte na vida diária das pessoas, e os muitos caminhos que isso pode levar. Comecei então a visitar lugares diferentes na Cidade do México e comunidades em vários estados do país, onde diferentes práticas relacionadas à fé eram realizadas. E isso sempre me surpreendeu. O México é como muitos universos diferentes dentro de um mesmo território. O projeto durou quase três anos, mas sofreu muitas mutações até receber a forma final.
No início era um projeto documentário. Mas aos poucos este projeto se transformou em uma busca pessoal. Procurei encontrar minhas próprias respostas. Em algumas situações quase encontrei, em outras não, e em muitos momentos tive medo, porque coisas muito intensas estavam em jogo.
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Religião e crenças é um tema bastante simbólico e também muito trabalhado por outros fotógrafos na América latina. Como você decidiu explorar esse tópico?
Minha maior referência foi a estética que sai desses mundos. Além disso, eu tinha muitas referências de trabalhos artísticos e da literatura que me ajudaram a construir visualmente o projeto.
Também trabalhei de duas maneiras, um lado mais “documental”, o que para mim estava mais próximo da realidade, digamos, do que vi com meus próprios olhos. E a parte do projeto que tem a ver com sensações, com crenças, com o que não vemos, trabalhei de forma mais simbólica. Tomei como referência as amarras, ou o uso do vermelho, ligado ao sangue, ao diabólico, e ao amor.
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Sua série “Salve sua Alma” tem uma forte presença feminina. A representação da mulher é uma questão na sua prática fotográfica?
Sim, questiono e reflito muito sobre a representação e o papel das mulheres na cultura latino-americana. Tanto atrás, quanto na frente da câmera. Nós temos enormes dificuldades, mas somos muitas agora para mudar isso. Nesta série em particular, é muito interessante ver como a mulher, ou o feminino, está sempre associada à desgraça, ao condenado. A figura da mulher como a culpada dos males da humanidade é repetida intensamente.
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Quais seus próximos projetos?
Atualmente estou trabalhando na Terra do Fogo graças a uma concessão da National Geographic, em um projeto sobre a vegetação local (as “turfeiras fueguinas”). A sua exploração está muito ligada à dinâmica social da região, e trouxe, entre outras coisas, o genocídio dos povos nativos, pelo uso e abuso de recursos naturais locais.
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