Minimalismo em imagens de São Paulo

No último fim de semana de agosto de 2016, São Paulo acolheu a décima edição da SP-Arte/Foto, feira de arte de fotografia que esse ano contou com a participação de mais de 30 galerias especializadas em fotografia.

 

Nesse ambiente, encontramos um fotógrafo paulista, Ivan Padovani, com dois trabalhos fotográficos super interessantes de forte influência minimalista.

 

O minimalismo não é exatamente um movimento, com preceitos, regras e um manifesto definindo suas características e especificidades. O termo minimalismo foi usado por críticos para denominar um grupo de artistas que emergiu em Nova Iorque por volta dos anos 60 com trabalhos que reuniam fortes influências do expressionismo abstrato. Eram artistas como Frank Stella, Robert Morris, Carl André, Donald Judd, Dan Flavin, Eva Hesse, que em linhas gerais compartilhavam obras geométricas, tridimensionais, austeras, abstratas, literais, mais ou menos monocromáticas, sem ornamentação, com uma regularidade, simplicidade e simetria.

 

Em seu trabalho Campo Cego, o fotógrafo Ivan Padovani, apresenta imagens verticais de fachadas cegas de prédios paulistas que formam um inventário da cidade. As imagens são em preto e branco, apenas do entorno dos prédios, sem o horizonte, sem elementos exteriores como passantes, pássaros ou nuvens. Vemos apenas as fachadas geométricas, simétricas, retangulares e chapadas. Além disso, as fotografias são apresentadas em caixas de concreto com espessuras e tamanhos diferentes, saindo da parede e se transformando em objetos.

 

Screen Shot 2016-08-28 at 4.39.27 PM

 

O objeto minimalista é isso, simples, unitário e carregado de uma forte gestalt.

 

Os minimalistas queriam unir a obra ao mundo. Como os objetos/ imagens de Padovani, os trabalhos dos minimalistas estreitavam os limites entre a imagem (pictorial nos anos 60, fotográfica no nosso exemplo) e a escultura. Eles não se importavam mais em usar nomes ou classificações, eram apenas objetos, trabalhos tridimensionais. Esses objetos abandonam a ilusão de três dimensões da imagem e se juntam a tridimensionalidade dos objetos do mundo.

 

Nos deparamos com a cidade no espaço da galeria. 

 

A repetição e a serialidade, características importantes dos minimalistas, aparecem bem evidentes nesse tipo de montagem. Por causa dessa recorrência, as imagens ganham um impacto pelo acúmulo. Vislumbramos calma e simplicidade na multiplicação das fachadas e recortes retangulares. No entanto, as sutis diferenças de cada prédio, as nuances das texturas e antenas, os detalhes de algumas rachaduras ou caixas de ar condicionado que vão se desvendando aos poucos diante do nosso olhar quebram com a mera repetição. Nos pequenos detalhes de uma observação mais atenta, Padovani nos mostra as sutilezas da percepção cotidiana e as possibilidades estéticas do caos saturado da grande metrópole.

 

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Em sua nova séria Superfície, apresentada ao público pela primeira vez na Sp-Arte/Foto pela Galeria da Gávea, percebemos outra grande influência: a simplicidade. Dan Flavin dizia que as formas simples tinham mais autoridade e mais presença. As fotografias de Padovani traduzem bem essa afirmação. Nessas suas duas séries arquitetônicas, ele não recorre a imagens rebuscadas, cores vivas ou detalhes teatrais apelativos. Nas suas imagens reina uma quieta simplicidade que se resume ao que é necessário àquela imagem, dando força a sua obra.

 

 

 

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