…numa terra muito distante, uma mídia artística, chamada fotografia, que não era considerada arte. Na verdade não faz tanto tempo assim, e a fotografia demorou bastante para se legitimar como arte. Foi um longo caminho que a fotografia teve que trilhar para que colecionadores, instituições, galerias, público, enfim, o mercado de arte em geral, acreditasse na sua seriedade.
A fotografia é uma arte fria e mecânica, sem alma, incapaz de suscitar emoção. – Baudelaire
Fotografia e pintura sempre estiveram muito ligadas. Desde sua invenção, a fotografia sempre se relacionou com a pintura, as vezes se complementando, az vezes se distanciando mas sempre se comparando. A fotografia e seus preceitos serviam de estudo para a pintura, por exemplo, com isso ela era tida como uma arte coadjuvante. À pintura se dava o papel principal de criação, à fotografia um papel secundário de retratar a realidade e documentar o mundo, ajudando na criação das lindas e grandes telas. Essa visão negativa acompanhou a fotografia desde seu início e perdurou durante muito tempo.
Rivalizando com a pintura, e buscando seu lugar no mundo da arte, surgiu o movimento pictorialista na fotografia, em torno de 1885. Ainda tateando uma linguagem fotográfica e uma identidade própria, o movimento é o primeiro a apresentar a fotografia através de uma visão artística, mesmo que sendo uma concepção clássica e romântica. A fotografia pictorialista buscava um afastamento com o realismo da mídia fotográfica e de suas imagens técnicas e uma aproximação com o que na época era considerado arte: a pintura. O lado positivo do pictorialismo foi dar à fotografia o estatuto de obra de arte, mesmo que essa notoriedade tenha sido buscada através de uma aproximação da fotografia com as características da pintura à óleo e outras técnicas da linguagem pictórica. Esse movimento se estendeu mundialmente e temos grandes fotógrafos dessa época: Heinrich Kühn, Eugene Lemaire, Julia Maragreth Cameron e Edward Steichen (que por si só é assunto para outro post).
Um movimento contrário surge no inicio do século 20, aos poucos, como resposta ao pictorialismo: a fotografia naturalista ou direta (straight photography). É um movimento que procura encontrar uma linguagem fotográfica mais dentro das possibilidades e dos recursos do meio, a partir do que a fotografia tem a oferecer: foco, luz e sombra, olhar, composição, nitidez, geometria…
Esse movimento da fotografia direta vai ganhando mais terreno porque ele procura dialogar mais com uma linguagem verdadeiramente fotográfica. Um grande exemplo dessa fotografia direta é o movimento f/64 que surgiu nos anos 30 nos EUA como uma vontade de pesquisar e desenvolver uma linguagem precisa com recursos da própria fotografia. Uma fotografia direta e pessoal. O nome f/64 vem da pequena abertura focal nas câmeras de grande formato que possibilitava foco em grandes distâncias focais.
Em busca de legitimação, a fotografia passa por um longo e árduo caminho e por uma linhagem de fotógrafos que batalhou para criar uma estética específica do meio: Steichen, Stiegliz, Ansel Adams, Edward Weston, Paul Strand, entre tantos outros. Eles lidavam esteticamente com questões como a subjetividade do fotógrafo, formalidade, excelência técnica no ato de tirar a foto, no processo de impressão e na permanência da imagem. Tudo isso para distinguir a fotografia artística da fotografia popular (que apenas retratava o real). É uma fotografia canônica moderna, que foi importante para a história da fotografia como estratégia de legitimação e independência.