Ultimamente – por questões pessoais, políticas, tecnológicas, mundiais e tantas outras – tenho sentido tanta falta de um momento de paz. Quando digo paz penso em silêncio, calma, vazio…
QUERO PARAR UM POUCO!
O fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto trás justamente essa sensação de quietude para suas fotos.
É uma imagem vazia que acalma. Mas esse vazio que falo não deve ser entendido como “falta de algo”, em oposição ao cheio. Seguindo as origens do nosso fotógrafo japonês, falo de um vazio budista (e nesse caso, zen budista).
Para os budistas o conceito de vazio seria radicalmente oposto ao vazio ocidental. Seria o fim das ilusões, da lógica, dos preconceitos, dos obstáculos do pensamento discursivo, seria o momento que a mente estaria pronta para compreender. Nessa esfera todos são vistos sem dicotomias, tanto o eu, como os outros, como a natureza são transcendidos.
Nessa série Seascapes, sobre os mares do mundo, Sugimoto elimina qualquer objeto externo ao ar e à água, suprime qualquer dramaticidade da foto e com isso uma possível narrativa. A falta de palavras e explicações, a eteridade e intangibilidade dos referentes ar e água, a repetição incansável da composição geométrica yin-yang faz com que a imagem ganhe um certo “vazio”. Mas ao observar cada paisagem, percebemos que esse vazio também é um acúmulo, nesse caso, de ondas. E de tempo, porque Sugimoto deixa o obturador ligado durante mais de 20 minutos.
VAMOS NOS PERDER NESSE HORIZONTE INFINITO.
Numa anedota zen o mestre diz ao seu discípulo, “sem pressa chegamos mais rápido”. É a observação, o silêncio, a meditação e a contemplação que levam à intuição da mente e com isso ao despertar. Devemos nos perder no mundo, divagar livremente para assim compreendermos intuitiva e totalmente o zen. Não há um caminho certo para a verdade, pois já estamos nela, ou seja, não devemos achá-la mas nos fundir nela. Podemos facilmente relacionar esses conceitos à arte de Hiroshi. Suas imagens “vazias” trazem naturalmente a mente a um estado contemplativo, até mesmo de meditação. A mente sossega, acalma, para e observa, e sem pressa, vai percorrendo a imagem. Intuitivamente mergulha nos detalhes, nos acúmulos, até perceber uma transformação até, de uma certa maneira, despertar.
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