Expandindo os temas e conexões com a arte contemporânea

Semana passada falamos do arquiteto Tadao Ando aqui. E essa semana peço licença para expandir mais um pouco o nosso tema, abrindo para a arte contemporânea. Gostaria de falar sobre o artista irlandês Yuri Pattison que vive e trabalha em Londres. Seu trabalho é extremamente instigante, sobre problemas atuais. Mais do que isso, seu olhar recai sobre os nossos problemas futuros. Yuri ganhou o prêmio de uma das maiores feiras de arte contemporânea, a Frieze, em 2016. Além disso, esse ano ele falou na Fiac, em Paris, ao lado do curador Hans Ulrich Obrist e participa da bienal de Atenas.

 

Trabalhando com mídia digital, vídeo, instalação e escultura, Yuri explora a economia digital e suas implicações futuras. Ele questiona a tecnologia, a circulação de informação e o universo crescente de coleta de dados produzidos e consumidos diariamente. Assim como a política atual baseada nesses sistemas de dados e seus resultados humanos e criativos. Seus trabalhos perpassam sistemas de interpretação e de controle contemporâneos. Nada mais atual, no Brasil e no mundo!

 

 

O que podemos fazer individualmente para estourar a bolha? – Hans Ulrich Obrist


Esse ano, Yuri Pattison participou da exposição “O centro não pode segurar” na fundação de arte das Galeries Lafayette, em Paris. Seu trabalho foi um vídeo entitulado “Solidão pública” em parceria com a empresa CrisisCast. Resumidamente, a CrisisCast dramatiza eventos ligados à segurança – em hospitais, aeroportos, escolas, prédios públicos – para ajudar a treinar forças armadas, companhias de segurança, etc. Ou seja, eles criam cenas e situações de medo e pavor para deixar policiais no Reino Unido, no Oriente Médio e no mundo, prontos para qualquer eventualidade.

 

Produzido em um teatro abandonado em Londres, o vídeo mostra um aeroporto com os trabalhadores/ atores da CrisisCast desempenhando vários papéis: de viajantes, agentes de segurança ou suspeitos. Além disso, o artista podia adicionar novas montagens, virtualmente, contribuindo para evoluir constantemente o trabalho. Aqui Yuri questiona o real e a ficção, assim como os conceitos de espaços, fronteiras e identidades. Obviamente, ele também destaca alguns pontos do atual contexto geopolítico. Como por exemplo, os governos terceirizando processos de produção e o fechamento maior das fronteiras externas. E ainda, a proliferação de controles de segurança, a propagação do medo e a tecnologia sempre presente, mesmo remotamente.

 

Yuri Pattinson, User, Spare, 2016

 

Yuri Pattison, Trusted Traveller, 2017

 

Uma nova solidão contemporânea, cada vez mais sós em um mundo cada vez maior.

 

Na bienal de Atenas, com uma instalação de um guichet de aeroporto, ele também perpassa esses conceitos. Mais ainda, ligado à história da Grécia, ele relembra as políticas de pânico em andamento em relação à crise migratória. No geral, Yuri investiga  a construção do eu em um momento de bolhas digitais e de fronteiras flutuantes que leva a uma reavaliação urgente das interações locais e globais. Além disso, ele se posiciona diante das consequências possíveis com as atuais políticas cada vez menos ligadas ao humano. 

 

 

 

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Tudo junto e misturado

Hoje em dia vamos em uma exposição e muitas vezes não sabemos para o que olhamos, seria uma fotografia, uma performance, uma documentação? Tentamos inserir o trabalho artístico em alguma casinha mas muitas vezes é simplesmente impossível.

 

Em torno de 1960, as “verdades” fotográficas foram duramente postas em questão. As vanguardas artísticas históricas quebraram com o formalismo e o purismo da fotografia moderna e a inseriram na contemporaneidade. O vernaculismo da fotografia dá lugar a uma maior experimentação, uma linguagem menos direta e menos rebuscada. Esses questionamentos acontecem menos através dos fotógrafos e mais por artistas do campo das belas artes. Andy Warhol e Yves Klein, entre vários outros, fundem a fotografia com outras mídias e descobrem novas percepções além da testemunhal. Com isso a fotografia entra no mundo da arte contemporânea onde não existe uma hierarquia pré estabelecida dos papeis de cada mídia, e onde todas as artes se misturam em diversas narrativas.

 

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Andy Warhol, 6 fotografias costuradas, sem título, 1976

 

Aos poucos os fotógrafos vão misturar as mídias e os diferentes conceitos estéticos e artísticos em seus trabalhos. Vai ficando cada vez mais perceptível uma hibridez entre vídeo, foto, instalação, digital, performance, escultura, pintura, etc. Com isso, surge uma série de questões que nos faz pensar sobre os limites que o próprio mercado impõe às artes. Como catalogar obra e artista, para qual departamento do museu a obra deve ser adquirida, em qual nicho de mercado vender o trabalho, qual nomenclatura dar ao artista…?  Será que no fim das contas importa. Para a arte com certeza não, mas para o mercado e suas instituições é outra história. E como um não anda sem o outro…

 

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