Sobre linguagem e silêncio

Tenho me interessado muito, ultimamente, pela relação da fala e do silêncio. E quando a gente se interessa por algo, não sei se o universo conspira ou a gente fica mais atenta, mas inúmeras fontes sobre o assunto chegaram até mim, entre podcasts, livros e revistas.

.

Na verdade o silêncio já foi quase meu tema de doutorado. Pesquisei um pouco na época do mestrado através das imagens de Hiroshi Sugimoto e depois queria levar mais a fundo no doutorado – mas o projeto acabou não se concluindo (ainda). Influenciada pela filosofia oriental e pelo zen budismo, naquela época via o silêncio como uma pausa, um momento mágico para entrar em contato com a subjetividade. Ele não era visto como vazio mas como um momento pleno.

.

As imagens de Hiroshi Sugimoto exemplificam bem esse silêncio que resumo aqui muito rapidamente. Imagens silenciosas que nos fazem olhar para dentro e nos libertar.

.

©Hiroshi Sugimoto, Theaters

.

©José Roberto Bassul, Poéticas Mínimas

.

Mas o silêncio também pode ser nefasto. O dominador usa o silêncio de sua vítima para dominar. E aqui falar se torna libertador. A linguagem, seja ela qual for, tem um enorme poder. Não é por acaso que grande parte da luta feminista passa pela linguagem: fomos caladas durante muito tempo.

.

“Tem coisas que vimos na infância e adolescência que não conseguimos falar. E no momento que traduzimos essas lembranças no trabalho fotográfico, é como se estivéssemos nos liberando de tudo que guardamos calado dentro de nós”. – Thandiwe Msebenzi

.

Imagens como as de Thandiwe Msebendi (que já foi discutida aqui), de Lucero Alomía, de Rodrigo Pinheiro e tantxs, tantxs, tantxs, outrxs exemplificam para mim o lugar de fala. Mais do que uma “expressão da moda”, é importantíssimo habitar a sua fala, a sua linguagem e não se calar. Não tenho respostas, apenas reflexões em andamento. Como acrescentou o fotógrafo José Roberto Bassul, que trabalha com o silêncio em suas imagens: “silêncio e fala não estabelecem uma dicotomia mas uma complementaridade. Assim como o discurso antecede a ação, o silêncio prenuncia a fala. É um refugio mas também uma instância de reflexão crítica”.

.

Na mesma onda / À lire aussi

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *