Fotografia e materialidade, sobre o Salon Approche

.

Fora de época, por causa da Covid, o Salon Approche 2020 aconteceu finalmente em maio 2021 em 3 galerias parisienses. Criado por duas jovens mulheres, Emilie Genuardi e Elsa Janssen, o salão se define como um lugar dedicado à experimentação da mídia fotográfica. Em sua quarta edição, a crítica de arte e curadora Léa Chauvel-Lévy e o curador Tristan Lund privilegiaram a relação da fotografia com a arte contemporânea e convidaram 17 artistas de vários países e gerações (sempre representados por uma galeria) para exporem.

.

.

Foi muito interessante sair de um período de confinamento e cair no meio das exposições do Approche. Depois de passar mais de ano vendo imagens planas no mundo virtual, foi incrível reiniciar o presencial com trabalhos tão ligados à matéria. Ver texturas, reflexos, jogos de planos e de materiais ao vivo, foi uma experiência quase única. Apesar do meu amor pelo online, não existe relação mais gostosa do que a proximidade com a obra. E com os artistas!

.

Um dos trabalhos expostos era a série Zilberbeek (Silver Creek) do jovem fotógrafo belga Lucas Leffler, exposto pela Galerie Intervalle. Uma grande experimentação fotográfica feita a partir da lama deste tal riacho de prata. A história começa em 1927, quando descobrem toneladas de prata descartadas nesse riacho belga por uma fábrica que produzia para Kodak e Fuji. Lucas descobriu um antigo artigo de jornal da época e resolveu visitar o lugar. Além de fotografar o cenário e o entorno do rio, Lucas resolve ele mesmo extrair a lama e imprimir imagens nesse suporte.

.

imagens do site de Lucas Leffler
imagens do site de Lucas Leffler

.

“Lucas Leffler amplia suas possibilidades plásticas indo além da fotografia plana. Ele experimenta como uma tentativa de reativar uma materialidade perdida, de restabelecer um processo de trabalho físico em torno da imagem fotográfica ou de criar relações entre sistemas de reprodução analógica e digital e entre a fotografia e a pintura. O artista, aliás, produz imagens únicas, não reproduzíveis”, relata o curador belga François de Cuninck.

.

Para o querido fotógrafo Luiz Baltar, o trabalho de Lucas se desdobra em outras questões, como a dos acúmulos e apagamentos na paisagem contemporânea. Eu gosto da ideia de ter uma imagem contemporânea impressa em um tanto de lama artesanal, que carrega acúmulos naturais e também da própria história da fotografia.

.

Continue Reading

Sobre lives…

.

Esse ano com certeza trouxe muitas novidades, e com elas a moda das “lives”. Todo mundo deve ter vivido, em algum momento, de algum confinamento, uma certa agonia de não conseguir dar conta de tanta live legal sendo transmitida. E também de se frustrar com muita live sem graça, onde ou o convidado não tinha traquejo ou o entrevistador era pouco convincente.

.

Com tudo isso em mente, acabou que meio sem querer, me vi a frente de uma série de 4 lives dentro da programação oficial do festival de fotografia FotoRio 2020! Mas como posso fazer algo interessante dentro de tanta live sobre fotografia já transmitida? O que posso trazer que acrescente ao diálogo visual depois de tudo que já foi dito? E como mediar de maneira dinâmica, didática e engraçada? Esses foram alguns dos milhões de questionamentos que vieram na mente enlouquecida de uma virginiana.

.

.

Não consegui responder e acertar tantas indagações, mas com a ajuda da equipe do FotoRio e de convidados incríveis, estou tendo muito tesão em participar de lives. Não exatamente porque gosto de aparecer (de jeito nenhum, eu não consigo rever nenhuma das transmissões que participei) mas porque a conversa tem um alcance absurdo e é muito enriquecedora. Com apenas 3 lives no currículo já conheci um núcleo de mulheres fotógrafas do sul do Brasil que promove a fotografia incansavelmente, descobri um pouco mais sobre a fotografia na Guatemala, me inteirei de projetos fortes no nordeste e na Venezuela, me inspirei com ensaios fotográficos fortes, iniciei uma troca que deve render frutos com uma fotógrafa que admiro, e muito, muito mais. Se interessar, segue link de uma das conversas: https://www.youtube.com/watch?v=UYDmU9HCFJM&t=816s

.

E sinceramente, entrando no meu segundo confinamento de 2020, apesar dos pesares, as lives tem sido ótimos meios de aprendizagem e descobertas. E não só no meio da fotografia, mas da arte, da política, do feminismo… Me diz qual live foi imperdível para você!

.

Continue Reading

Um novo olhar no novo normal

imagem João Bulcão, série "Confinados"

*Imagem de capa de João Bulcão, série Confinados

.

Desculpa o clichê, mas não me aguentei e usei o tão falado termo “novo normal”! A verdade é que estamos vivendo uma situação, em escala global, que de normal não tem nada. Muito pelo contrário. Mortes, medos, privações, fragilidades… nada disso pode ser normal. E diante desse mundo em crise, xs fotógrafxs nos ajudam a re-olhar os nossos limites.

.

Como podemos nos amparar da arte para nos ajudar neste momento de crise? A fotografia surge como um processo interessante de olhar reflexivo sobre nosso novo cotidiano. Como lidamos com as experiências de exclusão e precariedade? Talvez a fotografia surja como uma mediadora nesse novo dia- a- dia, ou como uma forma de conexão entre nós nesse momento de pausa mundial.

.

O coletivo Iandé*, a partir da Glaucia Nogueira, criou uma série sobre fotógrafxs, e artistas visuais, que a partir das limitações da pandemia do Covid-19 tiveram que se reinventar. Se reinventaram internamente, como todos nós, e com isso trouxeram outros olhares possíveis para eles, e para o público. Fotógrafxs que redescobriram suas casas, analisaram suas prioridades, aumentaram suas conexões. E criaram imagens que dialogam diretamente com o que estamos vivendo.

.

Imagens de Ana Sabiá e edição de Glaucia Nogueira

.

A série se chama “Confinados” e já conta com a participação do fotógrafo João Bulcão, José Roberto Bassul, da fotógrafa Ana Sabiá e de Virgílio Neves. E outros tantos novos vídeos estão sendo montados. Os novos olhares dxs artistas nos fazem, a nós, espectadores, sairmos de nossos confinamentos, e olharmos de outro maneira para o mundo lá fora. E como é bom ter uma leveza, mesmo que através do olhar de um outro, para olhar para o duro mundo atual.

.

Imagens de José Roberto Bassul e edição de Glaucia Nogueira

.

Continue Reading

Campanha solidária Fotos Pró Rio. Participe você também!

(*foto de capa Nair Benedicto e texto original no site do Iandé aqui)

“Fotos Pró Rio” é o nome da ação solidária criada por grandes nomes da fotografia carioca: o festival de fotografia FotoRio, os espaços culturais Ateliê Oriente, Retrato Espaço Cultural e Galeria Aymoré. Essas instituições se uniram para lançar esse projeto de vendas de fotografias para a cidade do Rio de Janeiro. Além de ajudar os fotógrafos participantes, vítimas latentes dessa pandemia sanitária e política, a campanha também ajudará 3 ONG’S cariocas: Jongo da Serrinha, Solar Meninos de Luz e Redes da Maré.

.

Junte-se a essa campanha solidária e linda!
 

.

O projeto foi inspirado em outras campanhas solidárias que foram feitas pelo Brasil e pelo mundo (em Bergamo na Itália, por exemplo) para ajudar o combate ao COVID 19. Só para listar algumas campanhas, no Brasil tivemos o “150 fotos por São Paulo”, “150 fotos pela Bahia”, “Fotos por Minas”, POA 150 fotos”, “96 Awery – povos indígenas BA” e ainda em andamento temos “Fotografias pelo Ceará”, “Olhar Potiguar”, “Fotografia que mandaver- AL”, entre tantas outras.  O diferencial do “Fotos Pró Rio” é que os convidados são os curadores e não os artistas. Foram chamados 82 curadores que por sua vez chamaram até 5 artistas cada, totalizando mais de 450 artistas participantes. Cada curador cria sua linha curatorial, convida os artistas, que só podem participar de uma curadoria.

.

.

O lançamento foi feito através de uma live no instagram do projeto, no dia internacional da fotografia, dia 19 de agosto. A live, comandada pela Gabriela Davies, passou pelos diversos organizadores que explicaram todos os detalhes da campanha. Foi mencionada a importância da ação e a beleza em ver juntos mais de 500 curadores, artistas e fotógrafos de várias geracões, culturas e tempo de carreira em prol de uma bela ação. A campanha vai até dia 18 de outubro e conta com a participação de nomes fortes da arte e fotografia brasileira além de novos artistas brasileiros e internacionais como Rosangela Rennó, Ana Bella Geiger, Cabelo, Evandro Teixeira, Walter Firmo, Bob Wolfenson, entre muitos e muitos outros.
.

Fernanda Tafner, curadoria Ioana Mello

.

Pessoalmente, fico muito feliz de ter sido chamada como curadora e criar uma curadoria que vá de encontro com o trabalho que faço: um diálogo entre culturas. Os artistas que convidei, e que tão gentilmente aceitaram, são Fernada Tafner, Elsa Leydier, Benjamin Travade, Julio Villani e Shinji Nagabe. A sensação é de tentar agir em meio ao caos, reunindo boa arte, novos olhares e uma ação solidária frente a difícil e atual situação. Espero que todos entrem nessa roda solidária ou ciranda de afetos, como disse a fotógrafa Nana Moraes.  *Mais informações e a lista de curadores, artistas e imagens no site fotosprorio.com

Continue Reading

Paris Photo 2019

.Depois de uma longa pausa, estamos de volta. Entre projetos mil, férias necessárias e problemas técnicos, foram mais de 5 meses fora do ar. Mas voltamos com a programação habitual, agora quinzenal, de dicas, histórias, imagens e elocubrações.

© Pierre BULTEZ

.Aproveitando o grande evento da última semana em Paris, nada melhor que retomarmos falando do Paris Photo. Maior feira de fotografia, a edição 23 do Paris Photo trouxe 200 galerias para o Grand Palais. Fora toda a programação off que acontece em volta. Além do setor principal, o Paris Photo apresentou mais 4 setores: filmes, curiosa, prismas e fotolivros. Fora as conversas com artistas durante os 4 dias de feira.

.

Conversa com a fotógrafa Alice Quaresma

.

Uma feira é sempre uma feira, com stands visando imagens já certeiras que possam responder financeiramente ao grande investimento feito. Mas visto o tamanho da feira sempre tem espaço para algumas surpresas. Para a segunda edição do setor curiosa o curador anglo-ganês Osei Bonsu escolheu trabalhos contemporâneos que dialogassem com antigas técnicas fotográficas. O espaço ficou um pouco pequeno para tanta obra, mas tinha muito artista interessante: Elsa Leydier, Andrés Denegri, David Meskhi, Morvarid K., Roman Moriceau, entre outros.

.

Nate Lewis, Transparent Memory, 2018, Hand-sculpted paper inkjet print, Fridman Gallery, New York.

.

A fotógrafa oficial do convite do Paris Photo 2019 foi a sul africana Zanele Muholi, ativista visual contra a violência da comunidade LGBT. Junto a ela, sua galeria, Stenvenson, trouxe mais algumas fotógrafas sul africanas como Viviane Sassen e Mame-Diarra Niang. Nomes fortes, trabalhos diferentes. Também tivemos a participação da galeria brasileira Lume com as obras “Ramos” de Julio Bittencourt. O stand estava original e saiu dos fotógrafos e trabalhos óbvios, apostando.

.

Madame Victoire, 2019, Viviane Sassen. Courtesy of Stevenson

Conversa com a artista francesa radicada no Brasil, Elsa Leydier
Continue Reading