Existe alguma série sobre a fotografia?

Hoje todos nós assistimos a séries na TV ou internet. Pois essa semana tenho duas dicas de séries sobre a fotografia. Uma é mais antiga, do início dos anos 2000, se chama Contacts e teve três temporadas, cada uma abrangendo uma área da fotografia: o fotojornalismo, a fotografia contemporânea e a fotografia conceitual. A outra é a web-série brasileira No Olhar feita com o apoio da Secretaria da Cultura de Estado do Paraná e que discute a fotografia brasileira.

 

A série Contacts fala de um fotógrafo por episódio a partir de imagens emblemáticas de suas folhas de contato: a singularidade de um frame que não foi ampliado, o conjunto de imagens em sua totalidade, um quadro que mais tarde se torna conhecido. Nessa série vemos direitinho todo o trabalho do fotógrafo: preparação, experimentação, espera, antecipação… Robert Doisneau, Hiroshi Sugimoto, Jeff Wall, Thomas Ruff, Helmut Newton e mais 28 fotógrafos falam de suas séries, seus conceitos, suas ideias, a paixão pela fotografia. Muito é revelado sobre as características de cada um e sobre a mídia fotográfica em si.

 

A série está a venda em DVD e é facilmente encontrada no youtube e afins. Abaixo o episódio 1 da primeira temporada com Josef Koudelka.

 

 

No Olhar TV se concentra em fotógrafos brasileiros, suas trajetórias e a relação de cada um com a fotografia. Mesmo focada na carreira de cada fotógrafo, a série consegue brilhantemente falar da fotografia no Brasil, sua importância e sua história, além de discutir a linguagem fotográfica e seus diferentes caminhos possíveis. Didática, ela também perpassa as diferentes oportunidades viáveis para o fotógrafo nos dias de hoje, no Brasil e no mundo.

 

Você gosta de fotografia? Gosta de se expressar através da imagem? Gosta de pensar o mundo através da imagem? E como você vai construir esse caminho? – Bruno Veiga (temporada 2, episódio 9)

 

Ana Carolina Fernandes, temporada 2, episódio 4

 

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Fotografia e Migração

Um novo ano começa e o problema de migração mundial está longe de achar uma solução. Entre guerras e sofrimento, a crise dos refugiados continua. Sabemos que a imigração não é um problema novo, muito pelo contrário, já era amplamente discutida desde os antigos gregos. Na era moderna vivemos dois períodos migratórios intensos durante as grandes guerras. A fotografia tem sido usada para documentar o movimento de pessoas entre fronteiras geográficas e culturais há muitos anos. Os fotógrafos colocam um rosto na imigração, tornando visíveis e palpáveis seus deslocamentos, suas dificuldades e suas oportunidades também. 

 

Encorajando novas experiencias de responsabilidade e empatia com o espectador, a fotografia tem um papel fundamental de aproximar o problema da migração e aumentar e enriquecer seu debate e tomada de soluções. O problema é quando as imagens se tornam banais e já não temos mais reação diante das milhares de fotos que vemos: barcos lotados de pessoas atravessando mares, rostos exaustos e cansados, famílias sobrevivendo em campos… Quando isso acontece, o tiro saiu pela culatra, e a fotografia perde todo o seu valor, virando apenas uma publicidade oca e fútil.

 

 

O fotógrafo inglês Daniel Castro Garcia ganhou a bolsa W. Eugene Smith Memorial de 2017 com sua série “Foreigner” sobre os imigrantes. Tiradas na Sicília, França e Grécia, as imagens retratam histórias e vidas de pessoas tentando integrar uma nova cultura e novos hábitos. O projeto tenta se aproximar de cada imigrante, retratando cada história em parceria com a pessoa fotografada.

 

A Sicília é um lugar central dentro da narrativa européia da crise dos refugiados e da migração, onde os indivíduos são grosseiramente representados e escutados, e, em última análise, fazem parte de um sistema que pouco faz para integrá-los à sua nova sociedade. – Daniel Castro Garcia

 

Misturando imagens, depoimentos, parceria nas poses e retratos, e também filme, Daniel oferece uma voz, e sobretudo um diálogo entre objeto e público. Diálogo esse que cria humanidade.

 

 

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Novidades de Ano Novo

Ano Novo, vida nova! Vamos começar o ano com um post visual, dizendo menos e olhando mais? Que tal descobrirmos juntos novos fotógrafos? Segue aqui 8 artistas que descobri ao longo do ano passado e que pretendo continuar observando seus trabalhos.

 

Juno Calypso (Inglaterra)- The Honeymoon, 2015

 

 

Shinji Nagabe (Brasil) – Itabanhana, 2015

 

Toshio Shibata (Japão) – Nikko City, 2013

 

Thibault Brunet (França)- Typologie du Virtuel, 2014

 

Vasantha Yogananthan (França) – A myth of two Souls, 2016

 

Namsa Leuba (Guinea/ Suiça) – NGL, 2015

 

Vanessa Beecroft (Itália) – VBSS, 2007

 

Matt Wilson (Inglaterra) – Deep South, 2016

 

E você, viu alguma imagem interessante ano passado? Descobriu algum artista? Compartilhe com a gente.

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Vamos falar sobre o fotolivro?

O termo fotolivro – ou livro de fotografia, ou ainda livro de artista – tem sido cada vez mais utilizado no meio da fotografia. Mais do que isso, cursos, prêmios, editoras estão cada vez mais investindo nesse caminho. Recentemente, escutei da fotógrafa Claudia Jaguaribe, que além de fotógrafa também tem a editora Madalena de fotolivros, que a fotografia é a melhor mídia para o livro, pois é uma obra em si. Essa frase me fez querer pensar o formato da fotografia em livro.

 

Diferentemente da pintura, que tem suas imagens reproduzidas nos livros, ou o vídeo ou a performance, a fotografia em formato de livro não é uma reprodução mas o trabalho em si. E, diferentemente da exposição na parede, pode encontrar milhões de alternativas originais de apresentação. O fotolivro é em si uma arte dotada de estrutura própria, narrativa intricada e coerência visual e intelectual.

 

Gerry Badger descreve o fotolivro como “um tipo particular de livro fotográfico, em que as imagens predominam sobre o texto e em que o trabalho conjunto do fotógrafo, do editor e do designer gráfico contribui para a construção de uma narrativa visual”. É apenas uma descrição, dentre tantas possíveis. Aqui gostaria de abrir um pouco mais essa definição, e pensar em projetos fotográficos que desde o início foram feitos para serem vistos na forma de livro. Muitos fotógrafos se consagraram ao longo da história da fotografia e vários são os exemplos de fotolivros ícones: The Americans, 1958, de Robert Franck, American Photographs, 1938, de Walker Evans, The Golden Years, 1995, Nan Goldin, Think of England, 2000, de Martin Parr, Genesis, 2013, de Sebastião Salgado, entre tantos e tantos outros.

 

 

A obra é a extensão de seu autor, e o fotolivro é uma de suas melhores traduções.

 

Através da sequencia de imagens – textos, e objetos- uma relação visual é criada entre as fotos; criando metáforas, simbologias, narrativas, e acrescentando mais camadas e profundidade ao ensaio do fotógrafo. O fotolivro não é um punhado de imagens colocadas juntas aleatoriamente, mas, como já descreveu Gerry, um trabalho de vários profissionais em pensar o ensaio dentro de um tema, uma forma, um estilo e uma ideia maior que perpasse um conjunto de imagens.

 

O fotógrafo Ivan Padovani, por exemplo, tem um lindo fotolivro do seu trabalho “Campo Cego”. Querendo mostrar o caos da cidade através das empenas dos prédios de São Paulo, suas imagens são impressas em papel transparente, criando camadas de linhas e formas visuais.

 

Ivan Padovani, Campo Cego, 2015

 

O fotolivro permite duas outras coisas. Primeiro, atingir um público maior, democratizar a obra de arte, e quebrar com a obra numerada, assinada e emoldurada na parede da galeria ou museu. Segundo, de criar um diálogo mais intimo com esse público. Ao folhear o fotolivro, como qualquer livro, somos transportados a um lugar, a uma sociedade, a uma história pessoal. Podemos voltar, reler, parar, ficar e saímos do registro documental da imagem para uma conversa pessoal e criativa.

 

O livro de artista nada mais é que a obra de arte pensada no formato livro/publicação. É mais uma rica oportunidade para fotógrafos e artistas de explorar outras linguagens e conexões.

 

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Paris Photo e o incrível universo da maior feira de fotografia

A feira de fotografia Paris Photo é o acontecimento incontornável do mercado de fotografia. Primeira feira de arte dedicada exclusivamente ao meio fotográfico, semana passada o Paris Photo apresentou sua 21a edição. Desde 1997, ela acontece anualmente em espaços prestigiosos, primeiramente no Carrousel du Louvre e agora no enorme espaço do Grand Palais. Ano passado, em 4 dias de feira, teve mais de 50 mil visitantes. Desde 2013, ela se aventurou no novo mundo e abriu uma filial em Los Angeles, nos EUA, para criar mais vínculo com o grande mercado americano como um todo. O sucesso das duas feiras é inquestionável.

 

 

 

Esse ano a feira apresentou mais de 180 galerias e editoras de livros de fotografia, de uns 30 países, que apresentaram trabalhos fotográficos tanto modernos quando contemporâneos. Um grande panorama da história da fotografia e do que anda se clicando (e vendo) pelo mundo. Pelo menos essa é a ideia, infelizmente a prática de uma grande feira de arte é um pouco diferente da teoria. Sem tirar o mérito de ser o grande encontro mundial de fotógrafos, galeristas e colecionadores de fotografia, o Paris Photo caiu em sua própria armadilha.

 

Ao expandir-se e tornar-se a maior feira de fotografia do mercado, o Paris Photo hoje funciona como um grande centro comercial. Com o custo alto para produção e participação da feira, a pressão e a correria, as galerias não conseguem inovar, nem investir em originalidade. Resultado: vemos muito do mesmo – o que vende – ou obras apenas para chamar a atenção. É obvia a crescente fadiga por parte dos galeristas, artistas que acabam tendo que produzir ao invés de criar, e público.

 

 

Com esse crescente enfoque financeiro nas feiras em geral, ainda temos o efeito “evento”, que tanto importa nos dias de hoje. Esse ano a cantora Patti Smith fez a curadoria da Gagosian (além de apresentar suas próprias imagens) e Karl Lagerfeld foi a figura da feira para comemorar os vips, fazendo tour selecionados e escolhendo dentre as galerias os trabalhos que mais lhe agradava. É sempre assim, de um lado os colecionadores que querem as melhores festas, as salas vips e o champagne, do outro, o público que quer ver os rostos famosos, as roupas da moda, as assinaturas vedetes… E no meio disso tudo, ostentação, futilidade, dinheiro e pouca diversidade e assombro com a arte.

 

Mas a feira Paris Photo 2017 teve algumas pérolas escondidas. As casas de edição estavam originais, e aqui penso na editora mexicana RM e no único stand brasileiro dividido entre as editoras Livraria Madalena e Bazar do Tempo. Fotolivros que eram trabalhos por si só, e não mera ilustração das fotografias. Grandes nomes da fotografia, menos midiáticos, estavam expostos em algumas galerias, como Joel Peter Witkin, Dora Maar ou Georges Rousse. De novidades, eu descobri os retratos e naturezas mortas contemporâneas de Olivier Richon, o caos organizado de Marja Teeuwen, o russo modernista Boris Ignatovich e a retratista Andrea Torres. Afinal, entre galerias asiáticas, latinas, americanas, européias e africanas, as descobertas existem.

 

Marja Teeunew, 2010

 

 

Andreas Torres, The Unknow

 

 

Olivier Richon, 2013
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