Residência Ithaque, 2022

Parte da equipe de organização da residência, “A Noite escura”, na galeria Ithaque, Paris 2022.

O Ithaque é um laboratório de fotografia analógica assim como um espaço de galeria dedicado à fotografia impressa em gelatina de prata, em preto e branco. Seu programa de residências tem o objetivo de receber, todos os anos no outono, um/a fotógrafo/a latino-americano/a para um mês intensivo impressão analógica em preto e branco, criando um diálogo entre culturas em torno da fotografia analógica. Esta primeira edição, A Noite Escura, receberá um/a ganhador/a de 3 de outubro a 4 de novembro de 2022 e é destinada a fotógrafos/as brasileiros/as. 

O projeto conta com a colaboração do FotoRio para este intercâmbio entre França e Brasil. Essa colaboração não é nova, pois os dois já trabalharam juntos (com a participação do Foto em Pauta e Doc Galeria) em 2021 para organizar uma projeção sobre fotografia brasileira no Ithaque durante o Paris Photo. 

Essa colaboração se materializa com a presença de Ioana Mello (membra da equipe de organização do FotoRio) como parte do grupo de produção, e Milton Guran, fundador da FotoRio, como parte do júri da residência, ao lado de outras personalidades renomadas da fotografia e da arte contemporânea: Agathe Gaillard, Sandra Hegedüs, Jean-Luc Monterosso, Solenn Laurent…

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Part of the team that organized Ithaque residency for Latin American photographers, Paris 2022.

Ithaque is a shared darkroom with a gallery space dedicated to black and white silver gelatin printing. The residency program has the goal to welcome, each year in the fall, a Latin-American photographer for a month of intensive black and white printing, in order to create a dialogue between cultures around the act of silver gelatin printing. This first edition, A Noite Escura, will welcome the laureate from October 3rd until November 4th, and is aimed for Brazilian photographers.

Ithaque is collaborating with FotoRio for this exchange between France and Brazil. This collaboration isn’t new, since they already worked together (along with Foto em Pauta) in 2021 to organize a projection about Brazilian photography at Ithaque during Paris Photo.

This collaboration is materialized through the presence of Ioana Mello (FotoRio board of directors) as part of the production group, and Milton Guran, FotoRio founder, as a part of the jury for the residency, alongside other renowned personalities of the photographic and contemporary art world: Agathe Gaillard, Sandra Hegedüs, Jean-Luc Monterosso, Solenn Laurent…

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Resistência, fotografia, leituras e um lindo jardim

Esse mês de agosto de 2018 inaugurou no Rio de Janeiro o festival FotoRio Resiste e em sua semana forte teremos mais uma edição das leituras de portfólio. Sou muito suspeita para falar das leituras, mas acredito piamente no poder da troca e do diálogo entre fotógrafos e amantes da fotografia. No geral, o ambiente propicia várias coisas positivas: empatia, generosidade, doação, inspiração e abertura.

 

Ano passado o festival instaurou o Prêmio Revelação ao melhor portfólio escolhido pelos leitores dentre pessoas iniciantes que nunca tiveram a chance de expor seus trabalhos em um museu, centro cultural ou galeria. O prêmio é uma exposição na Galeria Oriente no Rio. E o primeiro vencedor foi o fotógrafo Pedro Kuperman com seu ensaio Jardim de Maria.

 

 

 

O trabalho de Pedro, todo em preto e branco, perpassa a vida de um viúvo do Rio Comprido que homenageia sua falecida esposa cuidando de um jardim secreto no meio do caos carioca. Imagens sutis, tímidas, doces, e fortes, que retratam o amor do casal, o lirismo do local e a solidão feliz do senhor em meio ao seu paraíso. Como relata Joaquim Paiva, o curador da exposição, o trabalho perpassa o sentimento do retratado, “não nutre culpa nem luto, sua imersão no Éden não é fuga, e sim evocação.

 

O fotógrafo não explora, não agride, não toma nada, retrata com uma enorme sensibilidade e poética uma forma de sobrevivência em nosso mundo cão. Foram 3 anos dedicados ao projeto e à relação pessoal ao tema e objeto. O preto e branco acrescenta ao jogo de luz e sombra, ao mistério, ao imaginário e também quebra com o verde intenso do jardim.

 

 

Maria, aquele sorriso

em foto amarelecida

hoje sozinho reviso

como encantou minha vida. – Trova para Maria do Jardim de Maria

 

*A exposição Jardim de Maria fica em cartaz até dia 01 de setembro na Galeria Oriente, Rua do Russel, 300 / 401, Glória.

*O fotógrafo Pedro Kuperman trabalha num projeto sensacional de fotografia social junto ao povo indígena Ashaninka, para conhecer melhor clique aqui.

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Sobre as leituras de portfólio

Já participei de várias leituras de portfólio, algumas vezes com meu portfólio embaixo do braço, e olhos ligeiros diante das opiniões dos outros. E muitas outras vezes nos bastidores, produzindo esse encontro.

 

Para quem não sabe, leituras de portfólio são encontros entre fotógrafos – com seus portfólios – e experts diversos do universo fotográfico: galeristas, curadores, colecionadores, pesquisadores, editores… Existem alguns formatos; as vezes o fotógrafo fica com seu portfólio aberto e os leitores passam pelas mesas, outras vezes, a mesa acontece com mais de um fotógrafo e mais de um leitor propiciando um diálogo entre todos, e uma troca de opiniões. E o mais comum dos casos, e o que participei como leitora pela primeira vez, a versão “oráculo”, onde o leitor fica na mesa sentado e o fotógrafo troca de mesa com seu portfólio, de leitor em leitor.

 

Quando fotógrafa nas leituras, na época que ainda acreditava que tinha garra para ser fotógrafa (descobri justamente nas leituras de portfólio que não era para mim), vários leitores usaram dessa “plenitude” oracular para julgar, opinar subjetivamente e dar um parecer final sobre meu trabalho. Nada mais longínquo do propósito das leituras.

 

Felipe Fittipaldi, Eustasia

 

Quando produtora das leituras, era muito animador observar o diálogo propiciado pela discussão e troca de experiências em um ambiente que respirava apenas fotografia. Já caindo no clichê, vi muito olhar brilhando ao se deparar com uma nova produção imagética instigante. É um alento nesse mercado tantas vezes preguiçoso.

 

Bom, agora, como leitora nas leituras, devo dizer que foi tudo que eu imaginei, e muito mais. Tentei deixar meus pré-conceitos de lado, olhar para o fotógrafo, e sem nenhuma pretensão de oráculo apenas respirar fotografia, trocar histórias, pensar o ato fotográfico e viajar na magia dessa mídia. E foi uma bela viagem! Vi universos fantásticos, questionamentos sobre a identidade urbana, o real, auto-retratos surreais, que falam mais sobre nós que sobre o outro, poéticas documentais, fotografias tri-dimensionais, performances imagéticas, relações humanas… Cada fotógrafo foi extremamente generoso e minha mente ainda viaja nas possibilidades de tantos ensaios desafiadores.

 

Luiz Baltar, Fluxos

 

Mas como fazer para continuar motivados?

 

Essa foi a questão que todos me fizeram. Não soube responder. Ainda não sei. Mas acho que ter esse espaço de troca e debate, bastante democrático, de generosidade e inspiração, ajuda a pensar novos caminhos e novas parcerias entre fotógrafos e o mercado fotográfico. O mundo está em crise, o país ainda mais e a cultura…por onde começar! Diria que a solução, por enquanto, só se vier de dentro. A boa notícia é que tem muita gente boa, nova e antiga, pensando a contemporaneidade, produzindo ideias, procurando soluções para a mídia fotográfica e o escoamento de toda essa produção. Vamos continuar pensando juntos, aqui, ali e acolá.

 

Lucas Gibson, Osaka Nightlife

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