Uma outra viagem: ser estrangeira em minha própria casa

Faz umas duas semanas escrevi sobre fotografia e viagem (para refrescar a memória –http://photolimits.com/uncategorized/fotografia-e-viagem/ ). Falei de viagem mesmo: de pegar avião, fazer mala, contar ponto (e vantagem) com aquela foto MARAVILHOSA para o instagram… E, nesse post citei o francês Xavier de Maistre que escreveu um livro em 1790 sobre viagem.

 

Porém, seu livro tem um detalhe interessante, a viagem que ele faz é pelo seu próprio quarto!!!

 

Em Voyage autour de ma chambre  (Viagem pelo meu quarto), Xavier parodia a narrativa de viagem falando dos detalhes de seu pequeno quarto de dormir: móveis, pinturas… É uma tentativa de nos tirar da passividade do cotidiano, de transformar nosso olhar com uma certa dose de simplicidade e surpresa e de aumentar nossa receptividade diante do mundo tendo como exemplo o ambiente mais familiar de nossas vidas: nossa casa.

 

“The sole cause of man’s unhappiness is that he does not know how to stay quietly in his room[1]”, Pascal, Pensée, 136.

 

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De Maistre nos incita, através de uma premissa extrema, a abrir os olhos para detalhes que não vemos mais no universo familiar do nosso lar, ou em lugares cotidianos como nosso bairro ou nossa cidade natal. É uma maneira de mudar nosso olhar e passar por novas experiências, ter novas ideias, entrar em contato com outras verdades.

 

É UM EXERCÍCIO DE PARAR, CONTEMPLAR E DEPOIS FOTOGRAFAR.

 

Premissa bem mais difícil de colocar em prática do que o olhar frenético e consumista que estamos acostumados em nossas viagens pelo mundo. Aqui a ideia é fotografar o pequeno, o simples e o interno. Em oposição ao monumental e posado; clichês das grandes viagens.

 

A viagem pelo território conhecido da casa nos obrigada a desvelar um olhar mais perceptivo do nosso entorno e de nós mesmos, a explorar mais e repensar o óbvio. Viajar pertinho nos recoloca em posição de questionar a velocidade, o consumo e o espetacular desenfreados do nosso mundo atual.

 

Entrando nessa brincadeira proposta em 1790, fiz umas imagens da minha sala de estar. Sem guia e sem roteiro prévio é difícil se encantar! É bem complicado trocar o olhar cotidiano e funcional para um olhar de encantamento com o simples. Encontrar pequenos esplendores nos objetos usuais, nas texturas, nas cores….

 

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Agora é a sua vez de tentar a brincadeira. É barato, seguro, e surpreende! Depois compartilhe suas descobertas conosco.

 

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[1] A única causa da infelicidade humana é que ele não sabe como ficar quieto no seu quarto. Tradução livre.

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