10 anos do FestFoto

Com ares comemorativos, o FestFoto abre sua décima edição em maio de 2017. De 09 a 13 de maio, Porto Alegre vai receber inúmeras palestras, exposições, leituras de portfólio e bate-papos sobre a fotografia. E nós, de longe, só poderemos dar os parabéns e marcar na agenda para não faltar em 2018!

 

O FestFoto nasceu em 2007 com uma ideia de usar novas tecnologias para expandir o diálogo entre diferentes artistas e culturas e possibilitar a apresentação e divulgação de mais imagens além das que cabem penduradas na parede. Com um projetor, ou notebook, e uma vontade de provocar, mais fotógrafos se deslocam nos espaços da cidade e mais fotos são mostradas. De lá para cá, as leituras de portfólio também ganharam importância como um lugar de troca e aprendizado entre os diferentes personagens do universo fotográfico: jovens fotógrafos, curadores, galeristas, críticos… Grandes exposições físicas foras realizadas e nomes importantes da fotografia brasileira e internacional vieram palestrar no sul do país, como Thomas Farkas, Claudia Andujar, Marc Riboud, Sebastião Salgado, entre outros.

 

Outra ação extremamente interessante do festival é sua biblioteca. Qualquer um pode doar um livro sobre fotografia para a equipe do festival. A biblioteca fica aberta ao público durante os dias do festival e depois é doada para instituições e eventos que queiram receba-la. Desde 2010, ela já reuniu mais de 200 títulos entre livros de autores, catálogos, fotolivros… Sem contar o leilão! Outra ação bem legal com fotos lindas e super bem cotadas.

 

Marrocos, Coletivo Gringo

 

Esse ano, o FestFoto acontece no Centro Cultural Erico Veríssimo e apresenta exposicões físicas como “Marrocos” do Coletivo Gringo, “Rastros d’Eus” de Fernanda Chemale e “Você mereceu” da ganhadora da leitura de portfólio Encontros de Agosto em Fortaleza/2016, Marilia Oliveira. No dia 09 de maio teve retrospectiva das principais exposições do festival com Claudia Andujar, Luis Humberto, Thomas Farkas, Luiz Carlos Felizardo, Nair Benedicto, Ricardo Chaves… As leituras de portfólio dão prêmios como uma bolsa para estadia no FotoFest/Houston ou no Encuentros Abiertos de Buenos Aires. Mas sobretudo, vale a pena conferir os ganhadores, pois seus trabalhos costumam ser sensíveis e interessantes. Como o trabalho de Fábio Del Re, ganhador em 2016.

 

 

Fábio Del Re

 

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A fotografia rompendo muros e barreiras

Hoje existem 63 muros [fronteiriços] no mundo. Em 1989, quando o Muro de Berlim caiu, havia 15 – então podemos dizer que a sociedade moderna está construindo muros entre as nações. – Alessandro Grassani

 

Lembro da festa mediática e da minha festa pessoal quando o Muro de Berlim foi posto a baixo. Lembro das aulas de história e geopolítica também, que falavam dos horrores desse muro e de tantos outros que na minha cabeça tinham ficado no passado das páginas dos livros. E assim, ingenuamente, me espantei em saber o quanto ainda temos (e aumentamos) de barreiras físicas e visíveis. Mesmo que ao observar em torno seja óbvio as inúmeras barreiras invisíveis.

 

O fotógrafo italiano, Alessandro Grassani, resolveu iniciar um projeto fotografando os muros ao redor do mundo: A wall in between. Através dos obstáculos visíveis, ele quer escancarar o invisível: como o medo, a incompreensão e o ódio. Usar a imagem do muro para escancarar os diversos tipos de muros. E assim, reconhecer uma situação para juntos pensarmos numa saída. Sair dessa ignorância com fatos e fotos, ajudar a sensibilizar a sociedade e quem sabe diminuir as incertezas, os medos e os tijolos.

 

Alessandro Grassani, A wall in between, Mexico – US, 2016

 

Não é a toa que o projeto anterior de Alessandro foi sobre os migrantes ambientais – Environmental migrants: the last illusion . Um fenômeno mais recente que os imigrantes políticos, mas não menos sério, e que também lida com barreiras. São projetos que se cruzam o tempo todo. Pessoas deslocadas, sem voz, sem imagem, não reconhecidas, barradas, que passam por diversos obstáculos visíveis e invisíveis. O fotógrafo quer dar uma voz ao que não é falado. E uma imagem ao que se escolhe não ver.

 

A. Grassani, Environmental migrants: the last illusion, Mongolia, 2011

 

A. Grassani, Environmental migrants: the last illusion, Bangladesh, 2011

 

Alessandro trabalha com projetos longos, mergulhando em questões humanas e criando oportunidades de outras histórias serem contadas. Nada mais importante que diversificar os discursos, os pontos de vistas, as histórias. Só assim a gente passa a entender o outro, pois os pré conceitos são dispersados, e passamos a realmente conhecer o outro, descobrindo que somos todos humanos em nossas diferenças e que não precisamos de muros.

 

Uma utopia? Talvez. Mas uma coisa é certa, o mundo pode ser incerto e a vida caótica, mas não serão mais muros que irão melhorar essa sensação, muito pelo contrário, irão apenas reforça-las.

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Mitologia e fotografia

Na mitologia grega, as musas são as filhas de Zeus e Mnemose (a Memória). Elas seriam as divindades responsáveis por inspirar as atividades artísticas e a ciência. Elas são 9 – Calíope, Clio, Érato, Euterpe, Melpômene, Polímnia, Terpsícore, Talia e Urânia – e vivem em um templo que se chama Museion, que curiosamente deu origem a palavra Museu.

 

Algumas interpretações dos mitos gregos dizem que o dom de Mnemose, a memória, é conduzir o côro das Musas e, confundindo-se com elas, presidir a função artística. A arte, através das Musas, incitaria de delírio divino o artista e esse se transformaria no intérprete de Mnemose, aquela que tudo sabe.

 

Alair Gomes

 

No contexto mítico, lembrar significa resgatar um momento originário e torná-lo eterno. A memória confere imortalidade àquilo que ordinariamente estaria perdido de modo irrecuperável. Traz de novo a presença dos Deuses no mundo e nos coloca em relação com nossos antepassados, nossa história em comum, aquela que nos faz o que somos.

 

O lugar da memória é o lugar da imortalidade, ela liga os tempos e o que de fato é importante, como a fotografia. A arte abriga obras produzidas no passado e deixadas para as gerações, ligando os tempos e ajudando o papel da memória. A fotografia ainda vai além, ligando momentos, rostos, situações do passado ao presente. Diferente do que é difundido, o trabalho das musas é ativo (e não passivo), uma parceria entre a memória e as artes para lembrar o que somos através do tempo.

 

Na fotografia temos inúmeros exemplos de musas e musos que inspiraram lindas imagens, como Irving Penn e Lisa Fonssagrives, Franco Rubartelli e Veruschka, Jean Shrimpton e Catherine Deneuve. Ou ainda, Sally Mann e Larry, Robert Mapplethorpe e Sam Wagstaff, Alair Gomes e os meninos do Rio.

 

Irving Penn e Lisa Fonssagrives
Jean Shrimpton e Catherine Deneuve

 

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Não me leve a mal hoje é Carnaval

Mas é Carnaval, não me diga mais quem é você
Amanhã tudo volta ao normal
Deixa a festa acabar
Deixa o barco correr
Deixa o dia raiar
Que hoje eu sou da maneira
Que você me quer
O que você pedir, eu lhe dou
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser

– Chico Buarque

 

 

Não poderia deixar de associar a fotografia ao Carnaval brasileiro. Na avenida, no trio elétrico, nas ruas, hoje ou nas últimas décadas, a fotografia se associou de diversas maneiras com esse evento: ora documento de uma história em comum que todos temos, ora foto jornalística para se espalhar pelo mundo, ora experimental. De uma maneira ou de outra, a fotografia desvela as cores, as particularidades e o fascínio de muitos foliões por essa festa.

 

Seguem algumas imagens do Carnaval brasileiro pelas lentes de grandes fotógrafos.

 

Rogério Reis, Na lona

 

Lambe Lambe, Pedro Esteban, 2012

 

Bina Fonyat

 

Pierre Verger, Salvador

 

Walter Firmo

 

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A fotografia e as mulheres

Lendo o blog art2p2 da consultora de arte Marta Pereira, me peguei pensando sobre as mulheres fotógrafas. O artigo da Marta é ótimo, com inúmeros dados de vendas de artistas brasileiros homens e mulheres em leilões internacionais nos últimos anos, onde ela compara, analisa e chega a algumas conclusões.

 

Em última instância, a conclusão derradeira não é surpreendente: existe uma diferença de gênero, desfavorecendo as mulheres. 

 

Francesca Woodman

 

E as mulheres fotógrafas? Como Cindy Sherman, Dorothea Lange, Francesca Woodman, Berenice Abbott, Diane Arbus, Nan Goldin, Sally Mann, Vivian Maier, Annie Leibovitz. E no Brasil, Rosangela Rennó, Claudia Andujar, Kitty Paranaguá, Ana Carolina Fernandes, Cristina de Middel, Ana Stewart, Claudia Jaguaribe… Mesma coisa. Por muitos motivos, as mulheres continuam com menos representatividade na fotografia. A Coleção Pirelli Masp é um bom exemplo. Criada em 1991 com o intuito de ser uma “referência visual significativa da história da fotografia brasileira”,  tem dentre suas obras aproximadamente 20% de artistas mulheres apenas.

 

E como lutar contra isso?

 

Poderia ficar aqui enumerando muitos outros exemplos como o a Coleção Pirelli, ou comparar dados de preços de obras fotográficas, mas resolvi focar em exemplos positivos de ações que estão querendo mudar essa história.

 

Cristina de Middel

 

Um desses exemplos é o grupo Fotógrafas Brasileiras. Reunidas dia 06 de novembro de 2016 no centro do Rio de Janeiro, essas mulheres fizeram uma foto, para a partir dessa imagem dialogar e transformar. Outro exemplo é a Associação Brasileira das Mulheres da Imagem, com mulheres de todos os cantos do Brasil, unidas para juntas poderem entender quão grande é a diferença de gênero. Elas coletam informações e estatísticas, criam debates e ações ao redor da imagem e da mulher.

 

Claudia Jaguaribe

 

as fotógrafas brasileiras convidam todas e todos a olhar para o passado com os olhos do presente para que no futuro as mulheres possam ocupar efetivamente muitos espaços na fotografia e onde mais elas quiserem. – fotógrafas brasileiras

 

Você conhece outro exemplo de ações de mulheres fotógrafas? Compartilhe.

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