Muitos projetos fotográficos se desenvolveram ultimamente com o intuito de resistir através do olhar. Como já discutimos aqui, a imagem é, sobretudo nos dias de hoje, um elemento poderoso do discurso do poder, podendo corroborar a ideologia que quisermos. Existem muitos olhares, e é importante dar espaço a todos, justamente para deixarmos cada um escolher a sua verdade.
Com a necessidade de mostrar seus próprios olhares sobre o carnaval em favelas e subúrbios, um coletivo de fotógrafos independentes começou, em 2013, a registrar as manifestações culturais carnavalescas menos mediatizadas. Formados pela Escola de Fotógrafos Populares*, esses fotógrafos montaram o projeto Folia de Imagens que desconstrói vários pré-conceitos, tabus e clichês, do carnaval da periferia, que tanto foram perpassados pela grande imprensa no poder.
Aqui saímos da praia de Copacabana e dos grandes blocos das estrelas da Globo. O importante não é a pele bronzeada, a menino escultural ou a musa do verão, é a história carioca, o patrimônio cultural e os pontos relevantes de cada ano, como ano passado, em 2017, que o feminismo e a crise política ganharam destaque. Não há generalização nas fotos, aqui os blocos longínquos da Zona Sul e marginalizados pela grande mídia são retratados em sua totalidade e não apenas quando há mortes ou brigas.
O registro da folia é feito de forma democrática com o intuito de redefinir a identidade e fortalecer o pertencimento de todos. Entre os vários fotógrafos que participam, temos Léo Lima, por exemplo, que desenvolve uma pesquisa imagética com os moradores do Jacarezinho, temos também AF Rodrigues e Elisangela Leite com uma vasta documentação sobre o bloco da lama, ou a greve dos garis em 2014 pelas lentes de Luiz Baltar ou ainda o olhar menos estigmatizado de Fabio Caffé sobre os bate-bolas.
Independente do bloco, existe o cuidado com o reconhecimento de cada grupo, com a preservação de uma memória e com a importância de múltiplos discursos e olhares.
*A Escola de Fotógrafos Populares foi fundada pelo fotógrafo João Roberto Ripper em 2004 como uma formação em documentação fotográfica, edição, digitalização e arquivamento digital para residentes e estudantes universitários de comunidades populares do Rio de Janeiro, Niterói e Baixada Fluminense.