Critic writer about photography, art and our contemporary era.
Parte do texto de minha autoria:
A fotografia como representação da vida
Em meio a crise política, econômica e sobretudo humana das migrações que vivemos hoje em escala global, me pergunto onde podemos realmente ver o refugiado? Eu sei, você vai me responder que o refugiado está em toda parte. Sim, lemos inúmeros artigos em jornais e revistas, ouvimos diversas opiniões de especialistas e estudiosos, temos acesso rápido a milhões de links nas mídias sociais e o observamos em tantas imagens de grandes fotógrafos sobre a crise. Porém, dentro desse emaranhado de opiniões e fatos, a figura daquele que buscou refúgio em outro país se banaliza e ele se perde em representações simples e redutivas. Em geral, sua imagem se esfacela no pouco acesso que temos à uma representação interna e diretamente feita pelos próprios exilados. Ou seja, falta diálogo, falta conexão e proximidade com as verdadeiras vítimas dessa tragédia. Aquele que precisa se exilar de seu país acaba sendo retratado de fora, numa comunicação calcada na desconexão e na distância.
Shinji Nagabe é considerado um nissei, ou seja, um brasileiro descendente de japonês, mas como vemos em seu trabalho, ele ultrapassa essa etiqueta. De família simples do Paraná, e tendo vivido uma infância solitária, o que percebemos das origens de Shinji são seus dois pilares culturais que transbordam em suas imagens. Já adulto, Shinji saiu do Brasil imigrando para França. “ESPINHA” é o resultado deste processo de transição para um novo país, de descobrimento íntimo e de reencontro com a fotografia. Um projeto pessoal com um título em duplo sentido para conseguir captar seus profundos questionamentos de artista imigrante, com duas nacionalidades de base. A espinha é tanto o osso que sustenta o corpo e as raízes de sua origem como também a espinha que fere, a realidade que dói, mas que ao mesmo tempo serve de proteção.