Na garra e na vontade, mas sempre juntos

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Eu sei que passamos por momentos difíceis na cultura (pouco investimento, pouco apoio, pouca credibilidade) e por isso a importância (até a necessidade) de fazermos mais, falarmos mais, mostrarmos mais. Não estou aqui defendendo o “empreendedorismo” brasileiro que é apenas a tradução de um estilo de vida calcado na sobrevivência. Na verdade venho apenas jogar algumas ideias e ações interessantes que vi ultimamente por aí, e clamar que mais ações como estas sejam feitas. Pois são nossos esforços em comum que enriquecem o olhar e a troca entre todos.

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O brasileiro não é obrigatoriamente empreendedor, antes disso ele é uma vítima que tem que se virar para se sustentar.

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A galeria efémera.

12 amigos, e algumas imagens em pequeno formato a serem expostas numa galeria de fim de semana. Evento rápido, barato, com cheiro de novidade e modernidade. Os amigos chamam outros amigos, o evento cresce no boca a boca, assim como as oportunidades. Umas cervejas, muita conversa política e muita vontade de pensar no próximo evento, ainda maior, menos efêmero e mais ideológico. Essa específica galeria, foi num café, mas pode ser num apartamento, em um prédio desativado, em uma casa sem morador.

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Louis-Cyprien Rials , Mogadishu 2, 2019

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O espírito de aventura

O artista francês Louis-Cyprien Rials trabalha em zonas de conflito na África. Ganhador do prêmio SAM de arte, ele trabalha com fotografia e vídeo tentando experimentar, a sua maneira, a impossibilidade de traduzir esses espaços abandonados, transformados, impregnados de crenças e atravessados ​​por estigmas fatais. Expondo em três locais de Paris, sua trilogia da violência, ele dialoga com o público francês a necessidade de mostrar essas zonas de guerra. Mas de que maneira? E como ir além do apenas mostrar nas grandes salas chiques parisienses bebericando champagne?

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Num país devastado como a Somália, a cultura acaba sendo um luxo. Enquanto observava o artista e sua necessidade de dialogar sobre tantas urgências vividas, via os colecionadores ao seu redor sem grandes necessidades. Como estreitar essa ponte?

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Louis-Cyprien Rials ,Rashomon – Uganda, 2018

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O financiamento coletivo

Ok, eu sei, ninguém aguenta mais tanta campanha de financiamento coletivo. Mas sem essa ajuda mútua, sem o apoio dos que percebem a importância da cultura, como agir sozinho? Como perpetuar acervos, criar projetos com comunidades longínquas, resistir, apresentar trabalhos de jovens artistas e aumentar o diálogo para além dos pares. Como construir uma memória e possibilitar outras visões? O fotógrafo JR Ripper, que já falamos aqui, começou uma linda campanha de financiamento para criação de acervo e doação de memória para Biblioteca Nacional. São imagens de quilombos, povos indígenas, ribeirinhos, antíteses das imagens clichês midiáticas, a serem digitalmente disponibilizadas de graça.

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JR RIPPER


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Viajando para conectar fotografia e público

Semana passada falamos sobre criar e empreender. Ainda com o texto na cabeça me deparei com uma iniciativa muito legal, da americana Jennifer Schwartz, de aproximar a fotografia do público.

 

Mas quem seria o público da fotografia? A meu ver é todo aquele que se contamina com a idéia do artista, sem necessariamente ter algum conhecimento aprofundado sobre fotografia ou história da arte. Todos tem sensibilidade e até uma naturalidade para olhar e apreciar a imagem. Qualquer um, sem exceção, pode desfrutar da arte da fotografia.

 

Fotografar é um ato de compartilhamento entre o fotógrafo e o público.

 

Mas onde está esse público?

 

Por pouco conhecimento e informação sobre o trabalho de novos artistas, por pouco interesse e contato com a arte, por medo de não entender ou de não conseguir pagar, muitas pessoas simplesmente não frequentam galerias. Pensando em aproximar e desvelar a fotografia para esse público em potencial, Jennifer subiu numa kombi e percorreu 10 cidades dos EUA compartilhando imagens e histórias.

 

 

A americana escolhia 5 fotógrafos locais de cada cidade que ela parava, pedia 10 cópias de seus trabalhos, parava a kombi e interagia com as pessoas que por acaso passassem pelo local. Os fotógrafos explicavam seus trabalhos, conversavam com as pessoas e a cópia que mais sensibilizava o transeunte era dada de graça para ele iniciar uma coleção.

 

“Compreendi que uma ótima maneira de fazer as pessoas se interessarem por arte, era colocá-las em contato com os artistas para que ouvissem o que eles tinham a dizer sobre seus trabalhos.” Jennifer Schwartz

 

Nesse trabalho de corpo a corpo, todos ganham. A oportunidade é enriquecedora tanto para os fotógrafos que podem interagir diretamente com o público como para as pessoas, que têm a rara chance de se conectar com a arte de maneira despretenciosa e fácil. Além disso, é um ótimo meio de criar um público, fidelizá-lo e torná-lo comprador de arte.

 

Hoje, a americana criou uma ONG, Crusade for Art, que incentiva a criação de demanda, a conexão entre o público e a fotografia e a maior exposição de fotógrafos iniciantes. A ONG tem um prêmio anual de 10 mil dólares para iniciativas desse tipo, promove workshops e palestras, divulga fotógrafos e edita livros. Um verdadeiro exemplo de criatividade e empreendedorismo.

 

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Nathan Pearce, fotógrafo promovido pela ONG
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Empreender e criar, entre a fotografia e a vida

O que é preciso para conciliar a força realizadora do empreender, com a habilidade fluida do criar? André Martinez

 

Trabalho com artes, ou seja, estou mais para o lado criador. Uns poderiam até perguntar: como eu coloco os pés no chão para empreender?

 

Porém não acredito que empreender e criar estejam tão distantes assim, em lados contrários. Não acredito que de um lado tenhamos o empreendedor com o pé no chão e o criativo a voar nas nuvens. Um não é terra em oposição ao outro, ar.

 

Temos que ser ativos e querer participar.

 

Criar e empreender são a mesma coisa. Estão intrinsicamente ligados. Eu só escolho criar porque sou empreendedora. Assim, como só um criador pode se transformar num empreendedor. Os dois termos têm a mesma simbologia: compartilhar, dialogar, querer melhorar, mover e transformar o mundo.

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Unicamente a partir de ideias -criativas- inovações de todos os tipos surgiram e geraram mudanças sociais e culturais, negócios de sucesso, impacto na vida das pessoas e até grandes fortunas. O mundo é o que é, hoje, por causa dos criadores que empreenderam e dos empreendedores que criaram. Parece um jogo semântico mas é apenas o que é: realidade.

 

É preciso criar; criar por criar, sem pretensões de mudar o mundo. Isso virá depois, ou não, e tudo bem.

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