A fotografia transbordando na cidade de São Paulo

E vamos viajar por esse Brasil cheio de boas opções fotográficas? Uma boa dica em São Paulo é o Museu da Imagem e do Som. Já faz 5 anos que o MIS dedica dois meses por ano da sua programação para a mídia fotográfica. O evento, criado por André Sturm, trás para os espaços do museu, e além dele, exposições, palestras, debates, lançamentos de livros, feiras de fotografia, ou seja, inúmeros eventos em torno da imagem.

 

Esse ano, o Maio Fotografia no MIS apresenta 8 exposições, entre elas uma sobre imigrantes sírios – Farida, um Conto Sírio – algumas em torno das imagens feitas por smartphones – mobgraphia – e a que mais me marcou, sobre a revista Camera.

 

Camera, 1967

 

A revista Camera iniciou na Suiça em 1922 pelo engenheiro Adolf Herz e o editor C. J. Bucher. Mas o  projeto cresceu mesmo depois dos difíceis anos da Segunda Guerra Mundial quando se tornou a primeira plataforma européia de divulgação e exposição da fotografia artística. Allan Porter foi o último editor chefe da revista, entre 1965-1981, e trouxe ainda mais leitores para a revista e para a ainda incompreendida fotografia, que virou o centro das atenções. 

 

Este editor americano, recém-chegado a Europa, marcou a revista com sua personalidade, dedicando-se de corpo e alma. Ele promoveu jovens talentos, se abriu a todos os gêneros, explorou a história da fotografia por temas, combinou texto e imagens, reinventou constantemente novos modelos gráficos para a revista utilizando as mais recentes técnicas de impressão e variando os tipos de papéis.

 

Importantes fotógrafos como Josef Koudelka, Ralph Gibson, Duane Michals, Sarah Moon, Eikoh Hosoe, Bernard Plossu, David Goldblatt, Diane Arbus, André Kertesz e Leslie Krims publicaram suas fotografias na revista, não como meras ilustrações, mas como obras de arte em si. E grande parte desse acervo pode ser visto no MIS, com algumas fotos de capa também. 

 

 

Numa parceria com o comprador do acervo da revista, um médico suiço, o MIS tece acesso ao acervo, ajudou na catalogação e organização e agora expõe esse tesouro. Imperdível!

 

*Maio Fotografia no MIS 2017 de 13 de abril à 28 de maio de 2017

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Vertiginosa exposição no Rio de Janeiro

A exposição “Linguagens do corpo carioca [a vertigem do Rio]” acontece até dia 09 de outubro no MAR, no cento do Rio. Com curadoria de Paulo Herkenhoff e Milton Guran, organizador do FotoRio, a exposição reúne mais de 800 imagens de 164 artistas brasileiros de 1950 até hoje. Entre eles temos grandes nomes como, Ana Stewart, Pierre Verger, José Medeiros, Rogério Reis, Claudia Jaguaribe, Rosângela Rennó, Evandro Teixeira. É uma bela mostra da produção fotográfica brasileira.

 

Dividida em temas, como “Corpos cosmopolitas e locais”, “Corpos coletivos”, “Corpos inconstantes” a mostra alinhava os diferentes corpos da caótica, plural e dinâmica metrópole do Rio de Janeiro. Entre realidades políticas, sociais, culturais e históricas diferentes, os corpos expõem de maneira latente situações as vezes comuns para alguns, as vezes agressivas para tantos outros. Diferentes coreografias nos retratam jogos de futebol e pulos de asa delta, dançarinas e boxeadores, carnaval e funk, surfistas de trem e massacre de Vigário Geral.

 

2008, Piscinão de Ramos

 

Partimos da ideia de que o corpo fala, às vezes, com mais expressividade do que as próprias palavras e de que gestos corporais ajudam a expor a cidade. Então, analisamos o corpo do indivíduo isolado, o corpo em diálogo com o coletivo e os corpos em contato com a cidade – Milton Guran.

 

A exposição é um pouco caótica em si, com muitas imagens, sons, e até experiências táteis, criando uma certa confusão de sensações. Contudo podemos pensar que esse exagero sensorial ajuda o público a entrar no clima da algazarra dessa cidade radical e a entender melhor, através dos ruídos, os diferentes desejos que convivemos no território da urbe. Percorremos numa mesma sala diferentes mídias que resultam numa mistura de comportamentos, padrões cariocas, gestos e contextos: todos manifestados pelos corpos vorazes.

 

Refletimos sobre o caráter multifacetado do Rio de Janeiro, simultaneamente cordial e violento, democrático e excludente, profano e apolíneo. – Felipe Scovino

 

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Cidade indígena, negra, branca, escravocrata, democrática, assassina, camarada, que fala inglês, francês, português e muitas gírias. Cidade paraíso, que exclui e que agrega, que voa e que nada, que é ruidosa nos sons das batucadas e silenciosa nos becos escuros. Cidade de sol e areia, de asfalto e sombra, de prostitutas, sorrisos, sexo e liberdades.

 

É essa cidade de múltiplas identidades que encontramos na exposição do MAR.

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A família brasileira ao longo dos anos

Estreou semana passada na galeria BNDES, no Rio, a exposição “Retratos da família Brasileira” de 1850 a 1960. São fotos antigas, preciosas pela história que carregam da nossa cultura e muito interessantes de observar. Cópias, em grande maioria originais, do curador José Inácio Parente, narram a história da fotografia no Brasil e dão uma boa mostra da nossa tradicional família brasileira.

Mas o marcante mesmo é como a organização familiar mudou tanto desde 1850! E o que não falta são motivos históricos: os avanços tecnológicos que possibilitaram uma família sem a necessidade do coito, o advento da pílula, a emancipação da mulher no século 20, as mudanças econômicas desde a Revolução Industrial, o aumento da urbanização, o advento da psicanálise…. Enfim, o que é certo é que a família hoje mudou, e muito. Mas e a representação imagética da família, mudou?

 

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 Imagem da exposição “Retratos da família Brasileira”

 

Hoje não se pode mais julgar se as pessoas são da mesma família só porque se parecem ou não. De repente, um cara japonês e uma mulher loura podem ter um filho negro. (“Nomes do amor”)

 

Pensando nesse enorme tabu que ainda existe diante das novas organizações familiares, a fotógrafa Simone Rodrigues lançou o livro “Nomes do amor – o amor que ousa dizer seu nome”. São retratos e depoimentos de casais LGBT que tem uma relação estável de mais de 2 anos. Alguns adotaram filhos, outros não; não importa, o que importa é que todos formam uma família.

 

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Weykman e Rogério, Anna Cláudia, Juliana, Luiz Fernando, Maria Vitória

 

Entrando na sala de estar dessas famílias, o leitor percebe que não existe nenhum fantasma escondido embaixo do sofá. Muito menos plumas e paetês. As fotos e histórias do livro desmitificam a imagem caricatural e errônea que muitas pessoas ainda tem da família composta por pessoas do mesmo sexo. Dialogando com a história da fotografia clássica de família – aquela da exposição em cartaz no BNDES – as famílias posam diante de uma antiga camera analógica hasselblad. O que vemos é uma outra representação da família brasileira, mas que no fundo nem é tão diferente assim. São imagens de casas, salas, sorrisos, crianças e pais comuns, simples e realistas.

 

“O amor é comum, o afeto é comum”.

 

Os casais homoafetivos não são uma novidade do século 21, eles sempre existiram, porém em uma posição bem mais marginal, obrigados a se esconder. Hoje, exigindo seus direitos e se engajando, esses casais se tornam protagonistas. Protagonistas em suas histórias e em nossas histórias também, escrevendo novos capítulos no direito, nas religiões, na fotografia, na arte e em nossas tão ostensivas “verdades”. As fotografias de Simone Rodrigues ajudam a criar uma ponte necessária para o conhecimento e o diálogo.

 

Para alguns, aceitar uma nova leitura de mundo pode ser insuportável, pois os obriga a repensar, ou mesmo abandonar, tudo aquilo que até então era dito como “natural” e “imutável” e que servia de referência. Evidencia-se, assim, o caráter imaginário de toda verdade, provocando o retorno dos eternos questionamentos: quem somos, de onde viemos, para onde vamos, o que nos constitui como sujeitos…

 

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Marah e Samantha

 

O projeto “Nomes do Amor” começou no Rio de Janeiro mas quer se estender por todo o país, pensando na importância dessa nova representação imagética da família brasileira.

 

A exposição “Retratos da família Brasileira” fica em cartaz na galeria do BNDES, até 09 de setembro na Av. República do Chile, 100, das 10h às 19h.

http://www.fotorio.fot.br/pt_br/2016/exposicao/1895/retratos-da-familia-brasileira

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Dica de exposição no Rio de Janeiro

Nova exposição no IMS mostra a diversidade brasileira

O Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro apresenta a exposição Modernidades Fotógraficas, 1940 – 1964 durante todo o ano de 2016. Os curadores Ludger Derenthal, do Kunstbibliothek em Berlim, e Samuel Titan Jr., do IMS, escolheram 4 fotógrafos com olhares bastante diferentes sobre uma mesma época: a modernidade. Época essa de formação para a fotografia brasileira e para o país como um todo. Historicamente, foram os anos da construção e inauguração de Brasília, o país vivia uma euforia nos ramos da urbanização, educação, arte e imprensa. O pensamento progressista e moderno das artes, com características brasileiras e não apenas das vanguardas européias , impulsionou o cinema, o teatro, a literatura e a fotografia.

 

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São mais de 160 imagens expostas dos 4 fotógrafos: o brasileiro José Medeiros, o francês Marcel Gautherot, o húngaro Thomaz Farkas e o alemão Hans Gunter Flieg. As temáticas variam muito: imagens da construção de Brasília, da urbanização do Rio de Janeiro, de produtos em estúdio, de arquitetura e paisagens brasileiras, de publicidade, dos ritos baianos de candomblé, de marcos históricos de Minas Gerais… Cada fotógrafo tem um estilo característico que permeia a exposição mostrando a diversidade de um rico e grande país em formação.

 

As fotografias são todas em P&B numa montagem minimalista e acertada. Visita mais que recomendada.

 

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Para mais informações: http://www.ims.com.br/ims/visite/exposicoes/modernidades-fotograficas-1940-1964-ims-rj

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Entre sem bater

Fui conferir a nova exposição do fotógrafo Arthur Omar , “Outras portas da percepção” no Oi Flamengo, Rio de Janeiro. Com curadoria de Ivana Bentes, a exposição reflete sobre os limites da imagem (te lembra alguma coisa? desvendando os limites da fotografia? Alguém?).

 

Através da sua trajetória como artista múltiplo, que já passou pelo cinema, vídeo e fotografia, Arthur Omar questiona o processo de percepção do mundo e da imagem fotográfica: o que é realidade, o que é ilusão, o que vemos?

 

PARA TUDO!

 

Vamos voltar um pouco e focar no processo fotográfico. Quando pensamos a fotografia, de cara, lidamos com o esquema clássico: foto/referente. Ou seja, pensamos a fotografia como o congelamento “eterno” de um momento que existiu mas não existe mais no mundo real: o referente tem a sua existência congelada na foto.

 

A FOTOGRAFIA ESTÁ INTRINSICAMENTE RELACIONADA AO REAL.

 

Toda fotografia lida com seu referente, ela não tem como fugir dele, porém ela também resulta de um processo de criação, onde é elaborada, pensada e refletida técnica, cultural e esteticamente.

 

Nessa exposição, o artista questiona justamente isso: nossa ligação ao referente e à realidade, nossa ideia de real e o nosso entendimento de imagem e por consequência, de mundo. Inspirado pelo poeta e pintor inglês William Blake que inspirou por sua vez as investigações do escritor Aldous Huxley sobre os estados alterados da mente pela mescalina (droga alucinógena), o artista tenta expandir as possibilidades da nossa percepção.

 

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O artista nos testa ao longo dos 3 andares de exibição. Em uma das salas, por exemplo, ele se distancia dos limites interpretáveis do retrato e fotografa figuras sem códigos, que nos obrigam a desconstruir e reconstruir a todo momento nossa ideia de representação. Com isso, nossa percepção se torna ativa e não mais passiva e somos obrigados a investigar e experimentar com essas formas desconhecidas e sem referente, criando um diálogo e despertando em nós ideias e sensações. Como a mescalina, as imagens de Arthur Omar ampliam nossa mente para alargar nossa percepção.

 

É UMA EXPERIMENTAÇÃO CONCEITUAL E FORMAL.

 

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Saímos da exposição questionando nossa relação com o real, nossa percepção do mundo, e da própria arte da fotografia. Arthur Omar contradiz a ideia de fotografia, repetida incansavelmente por muitos, que a imagem é fixa, imóvel, estática e absolutamente real.

 

A exposição fica em cartaz até dia 01.05.2016 no Oi Futuro Flamengo, RJ.

http://www.oifuturo.org.br/evento/outras-portas-da-percepcao/

 

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