A simplicidade de um olhar: a nova objetividade de Albert Renger-Patzsch

A linda exposição de Albert Renger-Patzsch fica em cartaz no Jeu de Paume em Paris até janeiro de 2018. Fotógrafo de nome difícil e olhar suave, o alemão Albert participou do movimento da nova objetividade nos anos 20. Movimento pós guerra, que surgiu na Alemanha como resposta ao Expressionismo e seu subjetivismo, a Nova Objetividade queria trazer de volta um realismo nas artes.

 

“It’s important to see things the way they are.” (Otto Dix, pintor da Nova Objetividade)

 

Cobra, 1927

 

Na fotografia, esse movimento teve uma dimensão anti-pictorialista, querendo trazer a tona a objetividade da mídia fotográfica. Albert foi um grande nome a frente desse movimento, e conseguiu dentro da precisão do meio e suas caraterísticas miméticas, acrescentar um olhar belo as suas imagens. Sua identidade estética testemunha de um rigor técnico e formal que usa a camera para intensificar a nossa visão e consciência de realidade. Ele consegue trabalhar com o fundamental da fotografia para criar. Justamente por isso, por sua simplicidade e sobriedade, em um estilo quase documental, suas imagens são tão fortes.

 

Ruhr e Möhne, 1936

Sua retrospectiva em Paris, consegue abarcar suas fases e seus diferentes objetos de estudo: como as plantas, as paisagens alemãs, os objetos industrias e a arquitetura. São diferentes temas mas apenas um foco principal: o estudo da fotografia. Em suas pesquisas conceituais, Albert consegue conjugar a potencialidade criativa e artística da fotografia com seu lado técnico e mecânico.

 

Durante sua vida, lançou vários livros. O que mais me chamou atenção foi seu livro “O mundo é belo” de 1928. Numa representação realista do mundo, através de ângulos de visão criativos e inusitados, Albert nos apresenta monumentos, estruturas industrias, objetos, natureza, paisagens: o mundo de formas que ele descobriu. Um inventário universal e uma bela surpresa para os leitores. Mesmo entre duas guerras, as imagens de Albert parecem extremamente positivas, quase abstratas à realidade intensa daquela época, senão fosse por seu compromisso com a realidade.

 

Essen, 1929

 

Floresta Spruce, 1951

 

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Venha descobrir um pouco mais do início da carreira de Henri Cartier Bresson e seu momento decisivo

Um grande nome da fotografia mundial, Henri Cartier Bresson, está em cartaz numa bela exposição em São Paulo. Fotojornalista, teórico, fundador da grande agência de fotógrafos Magnum e pai do momento decisivo, as imagens de HCB são conhecidas por todos. Por esse lado, é extremamente prazeroso andar pela exposição em cartaz, nosso olhar sempre recai em imagens familiares.

 

Organizada por João Kulcsár, a exposição no SESI-SP reúne 58 imagens feitas no início dos anos 30, ou seja, do início da carreira de HCB. O fotógrafo nasceu em 1908 na França, entrou no mundo artístico pela pintura antes de descobrir a fotografia em 1931 através de um amigo militar e da influência dos artistas surrealistas da época.

 

A fotografia é uma lição de amor e ódio ao mesmo tempo. É uma metralhadora, mas também é o divã do analista. Uma interrogação e uma afirmação, um sim e um não ao mesmo tempo. Mas é sobretudo um beijo muito cálido. – Henri Cartier Bresson

 

Em 1935, HCB viaja para os EUA e participa de uma exposição na histórica galeria Julien Levy de Nova York ao lado do mexicano Manuel Álvarez Bravo, principal nome da fotografia latino-americana, e do norte-americano Walker Evans, conhecido pelo registro que fez dos efeitos trágicos da Depressão americana. Os três fotógrafos tem em comum imagens do cotidiano, tiradas no meio da rua, de pessoas comuns, com muito grafismo e momentos decisivos. São as imagens dessa exposição, intitulada Documentary and Anti-Graphic Photographs, que podemos ver em São Paulo.

 

Hyères, França, 1932

 

Prostitutas, Mexico, Calle Cuauhtemoctzin, 1934

 

O legal de observar o início da carreira de um grande fotógrafo é que podemos vislumbrar suas influências, enxergar seus primeiro passos e obstáculos e percorrer com ele uma parte de seu caminho. Nesse caso, estamos diante de um HCB bem antes de sua teoria sobre o momento decisivo na fotografia, elaborada em 1952. Talvez sejam fotos mais fluídas, menos estruturais, mas também são mais livres e experimentais.

 

Para mim a fotografia é o reconhecimento simultâneo, numa fracção de Segundo, do significado de um evento, a par da precisa organização das formas que dão ao evento referido a expressão apropriada. – Henri Cartier Bresson

 

Foi no livro Images à la sauvette, escrito em 1952, que HCB primeiro mencionou o termo “momento decisivo”. Termo polêmico, tido como incompreendido por muitos, fala de uma maneira de fotografar numa época histórica específica. O momento decisivo seria o saber esperar na fotografia do instante perfeito entre o sujeito, o espaço e o movimento. Seria um estudo minucioso geométrico e formal, onde o fotógrafo não poderia recortar nenhuma outra imagem do negativo original. Seguindo ou não essas ideias, o momento decisivo marcou uma geração de fotógrafos e foi importante para a teorização da fotografia. Vale a pena conferir o início desse pensamento, o tatear de um grande fotógrafo na exposição em SP.

 

 

*Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp, Av. Paulista, 1.313, de 18 de abril a 25 de junho de 2017.

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Rio 2016, a emoção do esporte na fotografia

Nada melhor do que uma olimpíada, no seu país, para inspirar a pensar a relação da fotografia com o esporte. Aquele instante decisivo do movimento, da quebra do recorde, da superação da física, da emoção do atleta e da torcida.

 

É bem verdade que a famosa expressão “instante decisivo”, do fotojornalista francês Cartier-Bresson, não se referia à fotografia esportiva mas à foto documental. Mas essa expressão de alguma maneira faz alusão à essência da fotografia esportiva: não forçada, fluída e atenta ao momento de equilíbrio que pode acontecer diante das lentes.

 

O fotógrafo trabalha em uníssono com o movimento, como se este fosse o desdobramento natural da forma, como a vida se revela. No entanto, dentro do movimento existe um instante no qual todos os elementos que se movem ficam em equilíbrio. A fotografia deve intervir neste instante, tornando o equilíbrio imóvel. – Henry Cartier-Bresson

 

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 Florida, 1996, David Burnett

 

O fotógrafo americano David Burnett participou de todas as olimpíadas desde 1984, e esse ano ele não perdeu os jogos no Rio de Janeiro. Ele não clica o flagrante “medalha de ouro”, como ele mesmo explica, mas momentos mais suaves. De ângulos menos convencionais, usando uma câmera analógica, Burnett se interessa pelos detalhes, instantes menos definitivos para medalhas mas marcantes para o olhar. O que ele faz, há oito olimpíadas, é experimentar, sair do óbvio e nos surpreender com a impressionante força, leveza e estética do esporte. Momentos que não são mostrados na televisão, nem nos jornais, e que nosso olhar de torcedor muita vezes não presta a devida atenção.

 

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Rio, 2016, David Burnett

 

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Barcelona, 1992, David Burnett

 

Outros fotógrafos escolhem ainda uma outra perspectiva sobre o esporte, como Amy Elkins. Ela fotografa jogadores de rúgbi logo depois de um jogo, mostrando o lado psicológico de um esporte agressivo, a “elegante violência” do rúgbi, a masculinidade exacerbada e sua vulnerabilidade. São fotos posadas, extraídas do ambiente clássico do jogo mas não menos interessantes ou representativas do esporte em questão. Independente do fotógrafo ou da modalidade, a fotografia aliada ao esporte pode contar várias histórias, inspirar, refletir e sempre nos surpreender.

 

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Amy Elkins

 

E você, esteve nas olimpíadas do Rio? Tirou alguma foto legal? Divide com a gente nos comentários abaixo.

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