Eu fotografo com o único objetivo de apreender a tensão que existe entre os objetos e eu, me servindo do aparelho – a máquina ótica – como um mediador. – Koji Enokura
Terminemos o ano falando da revista japonesa Provoke, que teve apenas 3 números publicados, entre os anos de 1968 e 1969, mas que hoje é tida como uma ação importante na história da fotografia. Híbrido de revista, movimento, pensamento, provocação e atitude, Provoke era um coletivo de fotógrafos, poetas e teóricos que surgiram nos tumultos dos anos 60 para pensar a fotografia. Mais do que isso, contestar a fotografia, e seu poder de representação.
ARTE É IDEOLOGIA. ARTE É POLÍTICA.
Não é novidade para ninguém que os anos 60 e 70 foram de grandes mudanças no Japão: culturais, sociais e políticas. Depois de derrotado e devastado durante a Segunda Guerra Mundial, o país sofreu uma rápida transformação estrutural (se aliando aos EUA) resultando em uma nação industrializada, ligada aos melhores avanços tecnológicos e extremamente rica. Com isso, os antigos valores foram vencidos pela ode ao consumismo e grande parte da população esqueceu suas tradições. Isso acarretou uma onda de protestos entre agricultores, trabalhadores e estudantes. No meio dessa efervescência, surgem as imagens em preto e branco, de alto contraste, granuladas e muitas vezes fora de foco do Provoke. Não como um estilo em si mas como uma linguagem que procurava, indagava e protestava.
Os membros da Provoke, como Yutaka Takanashi, Daido Moriyama, Koji Taki, Takuma Nakahira, queriam uma captura genuína do mundo, do que está aí, e não uma confirmação de uma visão desse mundo. São fotografias fragmentadas, explosivas, subjetivas de uma experiência de mundo, sem querer transcrever e apreender a complexidade da realidade.
Devemos nos tornar “videntes” para atingir alguma coisa que se situa antes da forma. – Koji Taki
Essa linguagem fluída e confusa, que privilegia o absurdo e o caos, nos obriga a desorganizar o olhar. E o pensamento. E essa é o único olhar possível nessa sociedade de repetição, de consumo fetichista, de instrumentalização da arte e de imagens mediáticas, estéticas e auto explicativas. Qual o papel do fotógrafo? E da fotografia? E do cidadão? E aqui não sei se falo do Japão dos anos 60 ou do Brasil e do mundo do novo ano de 2017.
Sem ter respostas prontas, a Provoke provocou perguntas, protestos, quebras e resistência.
No processo de resgate dessa história, um livro e uma exposição foram montadas em cima do movimento Provoke. A exposição estára no Art Institute of Chicago, de 28 de janeiro a 7 de maio de 2017.
1 comentário
“essa linguagem fluída e confusa, que privilegia o absurdo e o caos, nos obriga a desorganizar o olhar (…) e o pensamento (…) e essa é o único olhar possível”
Só isso basta pra 2017!!
Obrigada pela inspiração, sempre!!!
Feliz ano novo, mon amie!!!!!!!!!