A fotografia e as mulheres

Lendo o blog art2p2 da consultora de arte Marta Pereira, me peguei pensando sobre as mulheres fotógrafas. O artigo da Marta é ótimo, com inúmeros dados de vendas de artistas brasileiros homens e mulheres em leilões internacionais nos últimos anos, onde ela compara, analisa e chega a algumas conclusões.

 

Em última instância, a conclusão derradeira não é surpreendente: existe uma diferença de gênero, desfavorecendo as mulheres. 

 

Francesca Woodman

 

E as mulheres fotógrafas? Como Cindy Sherman, Dorothea Lange, Francesca Woodman, Berenice Abbott, Diane Arbus, Nan Goldin, Sally Mann, Vivian Maier, Annie Leibovitz. E no Brasil, Rosangela Rennó, Claudia Andujar, Kitty Paranaguá, Ana Carolina Fernandes, Cristina de Middel, Ana Stewart, Claudia Jaguaribe… Mesma coisa. Por muitos motivos, as mulheres continuam com menos representatividade na fotografia. A Coleção Pirelli Masp é um bom exemplo. Criada em 1991 com o intuito de ser uma “referência visual significativa da história da fotografia brasileira”,  tem dentre suas obras aproximadamente 20% de artistas mulheres apenas.

 

E como lutar contra isso?

 

Poderia ficar aqui enumerando muitos outros exemplos como o a Coleção Pirelli, ou comparar dados de preços de obras fotográficas, mas resolvi focar em exemplos positivos de ações que estão querendo mudar essa história.

 

Cristina de Middel

 

Um desses exemplos é o grupo Fotógrafas Brasileiras. Reunidas dia 06 de novembro de 2016 no centro do Rio de Janeiro, essas mulheres fizeram uma foto, para a partir dessa imagem dialogar e transformar. Outro exemplo é a Associação Brasileira das Mulheres da Imagem, com mulheres de todos os cantos do Brasil, unidas para juntas poderem entender quão grande é a diferença de gênero. Elas coletam informações e estatísticas, criam debates e ações ao redor da imagem e da mulher.

 

Claudia Jaguaribe

 

as fotógrafas brasileiras convidam todas e todos a olhar para o passado com os olhos do presente para que no futuro as mulheres possam ocupar efetivamente muitos espaços na fotografia e onde mais elas quiserem. – fotógrafas brasileiras

 

Você conhece outro exemplo de ações de mulheres fotógrafas? Compartilhe.

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Aprimorando o olhar através do outro

 

Você não fotografa apenas com a câmera. Você traz com você todas as imagens que já viu. – Ansel Adams

 

O fotógrafo domina o uso das câmeras, lentes e os programas digitais como o photoshop, bem como as técnicas de iluminação, enquadramento e direção para captar a melhor imagem possível. Mas nada disso é possível (ou será bem feito) sem observar outros olhares. Ou seja, olhar através das imagens de outros fotógrafos.

 

Praia, Tríptico, nº 25, Alair de Oliveira Gomes, 1985

 

Nos dias de hoje, essa questão perpassa a todos. Pois não apenas os fotógrafos lidam com imagens; tirar, ver e compartilhar fotos já virou rotina para a maioria da população. São milhares de imagens nos bombardeando a todo momento. Mas nem sempre nos damos conta da complexa construção de uma imagem.

 

O poder da fotografia é muito mais complicado do que gostaríamos de admitir. – Marvin Heiferman

 

Então fica a dica, não perder aquela super exposição na sua cidade, com muitas imagens, e explicações sobre o fotógrafo. Passar na galeria perto da sua casa para discutir um pouco com outras pessoas. Mas vamos sair do óbvio. Que tal uma dica para adentrar outras imagens sem sair de casa?

 

O Google entrou no mundo da arte em 2011 com o Google Arts and Culture. A ideia é ser uma plataforma gratuita com imagens de obras de arte em alta resolução, onde as pessoas podem acessar livremente diversos acervos de seus vários parceiros pelo mundo: Tate, MOMA, Met, o nosso Museu do Amanhã, Getty’s Image… são mais de 150 museus em 40 cidades ao redor do mundo que aderiram a plataforma.

 

A câmera do Google Art reproduz imagens de mais de um bilhão de pixels! Com isso, você pode “zoomar” nas imagens vendo detalhes incríveis e de uma maneira diferente da formalidade do museu. As possibilidades de pesquisa são múltiplas, você pode pesquisar por fotógrafos específicos, acervos, imagens de acordo com cor ou tempo, fazer tours virtuais em diversas línguas, além disso, existem exposições pensadas exclusivamente para a espaço virtual. E com as imagens, a plataforma ainda mescla som, vídeo, texto, google street view… É uma enorme ação que engloba o mundo inteiro, aumenta e democratiza o acesso a arte, atrai novos públicos, complementa a visita real ao museu ou galeria e amplia as oportunidades de pesquisa, entendimento da imagem e o potencial de educação.

 

Detalhe da foto de Reg Lancaster, Paris, 1968
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Vamos bater um papo imagético?

A alma nunca pensa sem uma imagem mental. – Aristóteles

 

Dois amigos, Ben e Nat, resolveram levar ao extremo o conceito de fotografia como linguagem, e começaram uma conversa em imagens. Em vez de frases, parágrafos e pontuação, apenas imagens. O exercício deu tão certo que os dois criaram o site a new nothing,  onde outros fotógrafos podem iniciar diálogos. Tipo um chat só de imagens.

 

Charlie Rubin + Anastasia Samoylova, A new nothing

 

Usando fotografias inéditas e autorais ou imagens de arquivo, não importa, a intenção é que o diálogo seja provocado espontaneamente; por efeito estético ou formal ou poético, por recordações, ou sonhos… Os caminhos são inúmeros, e os resultados em sua maioria interessantes e lúdicos.

 

A fotografia é uma linguagem e como tal constrói representações e comunica, transformando a realidade e sendo por ela transformada.

 

Se em uma conversa comum, já estamos sujeitos a inúmeras interpretações pessoais, advindas de diferentes culturas, referências, mitos e olhares sobre o mundo, numa conversa imagética, cada um vai usar sua percepção individual e sua representação abrindo possibilidades incríveis de comunicar e transformar. A fotografia, com isso, ultrapassa os limites da duplicação do real, criando novos olhares sobre o nosso universo, e revelando muito sobre nós mesmos.

 

Markus Andersen + Elif Suyabatmaz, projeto Mirrored, 2015

 

A arte, desde seus primórdios, representa a capacidade humana de interpretar e organizar o mundo em elementos desenvolvidos a fim de refletir suas visões e suas ideias. A imagem fotográfica, tão difundida e imediata em nosso atual momento, com uma profusão de práticas e estímulos, propicia uma maior articulação e um diálogo em pleno desenvolvimento.

 

E aí, vamos bater um papo fotográfico?

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Terminando o ano com muita provocação

Eu fotografo com o único objetivo de apreender a tensão que existe entre os objetos e eu, me servindo do aparelho – a máquina ótica – como um mediador. – Koji Enokura

 

Terminemos o ano falando da revista japonesa Provoke, que teve apenas 3 números publicados, entre os anos de 1968 e 1969, mas que hoje é tida como uma ação importante na história da fotografia. Híbrido de revista, movimento, pensamento, provocação e atitude, Provoke era um coletivo de fotógrafos, poetas e teóricos que surgiram nos tumultos dos anos 60 para pensar a fotografia. Mais do que isso, contestar a fotografia, e seu poder de representação.

 

 

ARTE É IDEOLOGIA. ARTE É POLÍTICA.

 

 

Shomei Tomatsu, 1964

 

Não é novidade para ninguém que os anos 60 e 70 foram de grandes mudanças no Japão: culturais, sociais e políticas. Depois de derrotado e devastado durante a Segunda Guerra Mundial, o país sofreu uma rápida transformação estrutural (se aliando aos EUA) resultando em uma nação industrializada, ligada aos melhores avanços tecnológicos e extremamente rica. Com isso, os antigos valores foram vencidos pela ode ao consumismo e grande parte da população esqueceu suas tradições. Isso acarretou uma onda de protestos entre agricultores, trabalhadores e estudantes. No meio dessa efervescência, surgem as imagens em preto e branco, de alto contraste, granuladas e muitas vezes fora de foco do Provoke.  Não como um estilo em si mas como uma linguagem que procurava, indagava e protestava.

 

Os membros da Provoke, como Yutaka Takanashi, Daido Moriyama, Koji Taki, Takuma Nakahira, queriam uma captura genuína do mundo, do que está aí, e não uma confirmação de uma visão desse mundo. São fotografias fragmentadas, explosivas, subjetivas de uma experiência de mundo, sem querer transcrever e apreender a complexidade da realidade.

 

Devemos nos tornar “videntes” para atingir alguma coisa que se situa antes da forma. – Koji Taki

 

Essa linguagem fluída e confusa, que privilegia o absurdo e o caos, nos obriga a desorganizar o olhar.  E o pensamento. E essa é o único olhar possível nessa sociedade de repetição, de consumo fetichista, de instrumentalização da arte e de imagens mediáticas, estéticas e auto explicativas. Qual o papel do fotógrafo? E da fotografia? E do cidadão? E aqui não sei se falo do Japão dos anos 60 ou do Brasil e do mundo do novo ano de 2017.

 

Sem ter respostas prontas, a Provoke provocou perguntas, protestos, quebras e resistência.

 

© Eikoh Hosoe, Kamaitachi #31, 1968

 

No processo de resgate dessa história, um livro e uma exposição foram montadas em cima do movimento Provoke. A exposição estára no Art Institute of Chicago, de 28 de janeiro a 7 de maio de 2017.

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Um brinde a nós, com champagne e fotografia.

Fim de ano chegando, festas, amigos, familiares e brindes, muitos brindes, para renovar a esperança e as energias. E nada melhor que brindar com espumante e champagne. Ainda mais quando conseguimos junta-los com a fotografia.

 

 

Restrita a uma pequena região na França, o champagne movimenta em torno de 3 bilhões de euros por ano vendendo a idéia de luxo e celebração. Mas antes de tudo o champagne é um vinho excepcional, de caráter e com propriedades complexas que misturam frescor e tradição. A produção do champagne é uma forma de arte que foi desenvolvida ao longo de séculos através de várias gerações de especialistas. Hoje, sua produção é regulamentada e conta com regras pré-estabelecidas que delimitam desde os tipos de uva a serem usados até o método de fermentação.

 

 

Só bebo Champagne quando estou feliz e quando estou triste. Ás vezes, bebo quando estou sozinha. Quando estou em companhia, considero obrigatório. Bebo um golinho se não estou com fome e bebo quando estou com fome. Caso contrário nunca toco nele, a não ser que esteja com sede. – Lily Bollinger

 

 

 

Famoso por seu gosto efervescente, as borbulhas do champagne nos lembram grandes celebrações. Agora, graças aos avançados instrumentos científicos, dois pesquisadores foram mais longe e resolveram estudar o movimento das bolhas de uma taça de champagne. E um novo mundo se revelou. Cientificamente, o estudo vai além dos vinhos pois em menor escala se assemelha a fenômenos análogos ao da atmosfera e do oceano e pode ajudar em diversas áreas da ciência.

 

Mas para nós, o que importa aqui é a incrível parafernália que Gérard Liger-Belair e Guillaume Polidori desenvolveram para tirarem fotografias inéditas da dança desse vinho único.

 

 

Graças a uma abordagem inicialmente cientifica conseguimos descobrir muito sobre os processos sutis que dão a este vinho lendário um brilho ao olhar e um frescor à lingua. E, através de imagens lindas e intrigantes, também se revelou uma outra representação de uma bebida milenar.

 

Boas festas a todos! Saúde!

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